As birras: porque surgem e como lidar com elas

As birras são comuns nas crianças pequenas; são a forma que elas têm de lidar com sentimentos complexos. Por isso, é importante compreender o que a criança está a viver e, claro, evitar certas situações que lhes possam dar origem.

Como pais, já todos nós nos confrontámos com esse bicho de sete cabeças vulgarmente conhecido por birra. Quando o seu filho está a meio de uma birra, poderá ser difícil, para si, evitar a sua própria birra. A verdade é que, por muito incómodo e frustrante que seja lidar com birras, elas fazem parte do desenvolvimento, e a forma como lidamos com elas terá um grande impacto na pessoa em que o nosso filho se irá tornar.

As birras surgem nos mais pequeninos devido às suas ainda limitadas capacidades de lidar com as frustrações de forma positiva, do ainda limitado vocabulário para exprimir as suas necessidades e sentimentos e pelo facto de as suas capacidades de regulação emocional serem ainda muito reduzidas. Junta-se a isso o processo de desenvolvimento da sua própria independência como indivíduo, pelo qual está a passar e para o qual precisa de aprender a tomar decisões sobre determinadas coisas.

O seu filho pode finalmente usar palavras para lhe dizer aquilo de que precisa ou quer, mas isso não significa que já consiga lidar com suas emoções, ou seja, a mínima contrariedade pode desencadear uma birra, sentimentos de raiva e tristeza. Quer isto dizer que as crianças com um temperamento mais intenso terão maior probabilidade de fazer mais birras.

É importante que perceba que no momento da birra o seu filho está a ser inundado pelas suas próprias emoções, sentindo-se inseguro ou com medo. Naquele instante, ele é alguém que precisa da sua ajuda enquanto pai/mãe!

«Normalmente acontecem quando a criança está com fome, com sono ou aborrecida, e os adultos estão stressados e pouco presentes no momento.»

Educar com Mindfulness, Mikaela Övén

 

Primeiro passo: Prevenir o seu aparecimento

Para ajudar o seu filho a desenvolver estas capacidades, em primeiro lugar, é importante brincar com ele, criando oportunidades de o ajudar a desenvolver estas competências. Deixe-o escolher a brincadeira e dê-lhe toda a atenção. Ter esta experiência positiva consigo fornecerá ao seu filho as bases para se acalmar da próxima vez que ele ficar com raiva.

Para além disso, procure oportunidades para assinalar os seus bons comportamentos, mesmo aqueles que julga não terem importância. Com o reforço positivo dos comportamentos desejados, é provável que ele os volte a repetir. Podemos também, antecipadamente, ajudar a desenvolver formas saudáveis de lidar com a frustração, como técnicas de respiração profunda, por exemplo; basta imaginar uma flor muito cheirosa e pedir à criança para a cheirar profundamente e, em seguida, apagar uma vela enorme do seu bolo de aniversário. Treinar estas situações antecipadamente será uma ajuda preciosa no momento da birra.

A forma como lidamos com as birras vai determinar o seu curso.

Finalmente, esteja atento às situações que tendem a gerar uma birra, e prepare-se: se ele fica irritado quando aparece um “ratinho” na barriga, tenha sempre consigo um snack saudável. Se ele berra quando está cansado, torne as suas sestas uma prioridade máxima.

A forma como lidamos com as birras vai determinar o seu curso. Por exemplo, se damos muita atenção às birras, o natural é que elas apareçam mais amiúde; se, por outro lado, respondermos à birra com raiva, as birras vão, com certeza, escalar, e isto leva-nos ao segundo passo.

 

Segundo passo: Identificar os diferentes tipos de birra e as diferentes formas de lidar com ela

A birra emocional: aquela em que a criança está a sentir-se frustrada (porque, por exemplo, não consegue vencer um desafio que propôs a si própria, rumo à sua independência, como seja, apertar os botões do casaco) ou a transbordar de emoções. Bom, aqui a técnica é esperar, até perceber aquela mudança de tom para a tristeza, que nos permitirá aproximar, limpar as lágrimas, oferecer conforto e compreensão, e depois avançar.

A birra dramática: esta é bem diferente, até porque não costuma ser acompanhada por lágrimas e relaciona-se mais com o desejo da criança em obter algo, ou seja, tentar influenciar a nossa decisão. Nestes casos, a melhor opção é não dizer nada, nem sequer fazer contato ocular, e avançar para outro local. Mais tarde, quando a criança se acalmar, poderá explicar a situação sem dar muita importância ao assunto.

Em casa: o cantinho da calma é um espaço que ajuda a criança a acalmar-se na sua companhia (não sozinho) e o seu cérebro a organizar-se para melhor pensar. Nesse cantinho podemos colocar almofadas, música para relaxar e as “garrafas da calma”, que todos nós podemos construir em 5 minutos! Elas têm um efeito semelhante a olhar para um aquário com peixinhos a nadar. Pode optar, também, por um espanta-espíritos feito com coisas simples lá de casa; o seu barulho é muito relaxante.

Em público: uma das coisas que mais afligem os pais são as birras em público, porque, de facto, manter-se calmo durante uma birra é difícil, mas em público é bem pior.

Por isso, quando elas ocorrem em locais públicos, tente retirar-se do local – vá até à casa de banho ou até ao carro, para que possa dar ao seu filho toda a atenção de que ele necessita sem ter de se preocupar com o facto de você estar a ser o centro das atenções.

Para terminar, ninguém gosta de se sentir fora de controlo, portanto, da próxima vez que o seu filho estiver assim, entenda que aquilo é um pedido de ajuda e não um “teste”.

E já sabe, respire e recomponha-se, afinal o adulto é você!

 

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