A sobrevivente do Holocausto que não sabe odiar
Lidia Maksymowicz, a criança que passou mais tempo em Auschwitz-Birkenau, encontra-se em Roma para a estreia de um documentário sobre a sua vida. Convidada para assistir à audiência papal em memória das vítimas do Holocausto, após cumprimentar o Papa Francisco, levanta a manga da camisa, mostrando-lhe a tatuagem com o número que lhe fora dado: 70072. O gesto foi notícia em todo o mundo. Um ano depois, a sua biografia, inspirada no documentário e escrita em colaboração com o jornalista Paolo Rodari, com prefácios do Papa Francisco e de dois outros sobreviventes do Holocausto, chega às livrarias. 70072: A menina que não sabia odiar é essa inspiradora história que a Porto Editora agora publica.
Foto por Robertocelestegiuseppefalletti – Obra própria, CC BY-SA 4.0
Lidia Maksymowicz tinha três anos quando, em dezembro de 1943, entrou com a mãe no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, onde foi marcada com o n.o 70072. Durante treze meses, sobreviveu àquele inferno como uma das pequenas cobaias de Josef Mengele, conhecido como “o Anjo da Morte”. Em janeiro de 1945, após a libertação, sai de Auschwitz na companhia de uma mulher polaca, que decidiu adotar um dos “órfãos” deixados num local repleto de cadáveres. É na casa desta mulher que Lidia vive e cresce.
No entanto, a pequena sobrevivente não esquece o seu nome de batismo – Lyudmila Botcharova – nem a mãe biológica: não deixa de acreditar que a mãe está viva nem de a procurar. E, de forma quase miraculosa, as duas irão reencontrar-se, dezassete anos depois. Do campo de concentração, Lidia recorda-se do silêncio necessário para sobreviver, sem poder sequer permitir-se uma emoção. Hoje, volvidos quase oitenta anos da sua prisão, dedica-se a preservar a memória do Holocausto, testemunhando «o que foi o Mal e que o Bem pode sempre prevalecer».