Quando os adolescentes não conversam com os pais

De repente, a criança que chegava a casa e contava o que se passava na escola, no recreio, que falava dos amiguinhos, tornou-se um adolescente de poucas palavras, que nada conta e que, por vezes, reage menos bem às questões que os pais lhe colocam. Privacidade é a palavra de ordem.

Na primeira fase da adolescência é o que acontece, frequentemente, dado que, de facto, precisam de repensar as relações sociais, restabelecer a estabilidade emocional, refletir sobre as questões da identidade. E precisam também deste tempo para se reorganizarem e responderem às necessidades desenvolvimentais.

Ora, se isto é deveras preocupante para os pais, fazerem verdadeiros interrogatórios sobre a escola, os amigos, o(a) namorado(a) leva, geralmente, a discussões infrutíferas, e a que a referida privacidade seja defendida com unhas e dentes.

Mas é importante que os jovens falem com os adultos , que oiçam outras opiniões que não as dos pares, que partilhem problemas mas também sonhos, aspirações... que comuniquem.

As práticas parentais com autoridade democrática, também elas importantes na adolescência, em que os pais insistem nas normas, nos valores, nas regras, mas que, simultaneamente, usam o calor e a aceitação, a disponibilidade para ouvir, para explicar e para negociar, encorajam os jovens a formar as suas próprias opiniões.

Os pais devem ser participativos, comunicar com os filhos respeitando-os enquanto indivíduos, dentro dos limites.

A exigência em demasia, a rigidez, a falta de flexibilidade e de compreensão podem tornar o adolescente revoltado e sem vontade de comunicar. Ser demasiado tolerante e flexível pode, por contrário, levá-lo a pensar que é pouco importante, que ninguém se preocupa com ele.

Também em relação à escola os pais devem acompanhar o filho mas sem invadir o seu espaço. Devem monitorizar as atividades, mas sem interferir nelas, dado que parece ser a afirmação do poder que evoca reações negativas.

O controlo exercido sobre a conduta dos filhos deve ser adequado, mas não castrador, invasivo.

Se o adolescente sente que não o respeitam, que não o tratam como uma pessoa responsável, pode rejeitar a influência parental e procurar apoio e aprovação junto dos pares, a todo o custo.

 

O que fazer para melhor comunicar com os adolescentes?

Pelo menos uma vez por dia, a família deve partilhar uma refeição, em que a televisão, os telemóveis e afins estejam desligados, de modo a que cada um fale do seu dia, das suas preocupações, dos acontecimentos felizes, ou seja, comuniquem.

Partilhar com o adolescente tarefas, jogos, passeios, algo que lhe agrade, e durante esses momentos falar e acima de tudo escutar (escuta ativa) o que o adolescente tem para dizer, sem preconceitos, sermões ou juízos de valor. E sem emitir opiniões desagradáveis acerca dos amigos, dos namorados, criticar negativamente ou dar ordens, que poderão fazer com que o adolescente se feche e deixe de partilhar e de comunicar.

A linguagem a usar deve ser adequada, adulta, não a que os adolescentes usam. Cada um tem uma função diferente, direitos e obrigações diferentes, idades diferentes e isso deve ficar claro.

As conversas também devem ser particulares, não à frente de amigos ou de familiares, porque muitas vezes as opiniões destes ou a sua interferência podem causar conflitos.

Os adolescentes criticam a autoridade e criticam os adultos em público mas se tal lhes acontece é um drama — “todos vão saber… todos vão ouvir” (a audiência imaginária).

A boa notícia é que, ao longo da adolescência, e apesar de começarem a passar menos tempo com os pais, esse é um tempo de “qualidade”, em que a relação, os sentimentos e, consequentemente, a comunicação se vão tornando mais positivos. Claro que todos se devem empenhar nesta melhoria que deve começar a ser construída desde muito cedo.

 

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