2022-10-06

Do Leste para o resto do mundo – leituras para compreender o que está a acontecer

Quatro sugestões imperdíveis para contextualizar a guerra na Ucrânia

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24 de fevereiro de 2022 é uma data que ficará inscrita nos livros de História, porque marca o início de uma guerra anunciada. A invasão russa avançou pelo território ucraniano a partir da Bielorrússia, da Crimeia e da zona leste do país, onde desde 2014 se registavam conflitos entre separatistas e nacionalistas. Mas há vários fatores a ter em conta no enquadramento deste conflito e que obrigam a recuar vários anos. 

 

Comecemos pelos dois protagonistas: Putin e Zelensky. 

 

 

 

O primeiro, Vladimir Putin, tem levado a cabo uma poderosa campanha com o objetivo de expandir a sua influência e enfraquecer as instituições ocidentais. De Moscovo a Londres, passando pelos Estados Unidos liderados por Donald Trump, a teia de contactos do líder do Kremlin garantiu-lhe influência na política e economia mundiais. É sobre essas ligações de poder que a jornalista Catherine Belton se debruça em Os Homens de Putin. Considerado Livro do Ano por publicações como The Times, The Daily Telegraph, The Economist e o Financial Times, este é um relato de como Vladimir Putin e o seu círculo restrito (essencialmente constituído por membros do antigo KGB) tomaram o poder na Rússia e estabeleceram uma nova cúpula de oligarcas, substituindo os magnatas da era soviética. 

 

Nesta obra vai encontrar depoimentos – muitos deles sob anonimato, por questões de segurança – de representantes do Estado russo, banqueiros e magnatas, antigos agentes de topo do KGB e jornalistas antirregime. Uma leitura indispensável para quem quer saber mais sobre a ascensão de Putin e o sistema corrupto que orbita em torno do seu autoritarismo. 

 

 

 

 

Do outro lado do conflito temos Volodymyr Zelensky, considerado por muitos O Herói Improvável. Foi com base nessa premissa que os jornalistas Andrew L. Urban e Chris Mcleod procuraram retratar o percurso do chefe de Estado ucraniano, desde a infância até ao momento em que, contra todas as probabilidades, decide resistir à invasão militar russa, fazendo ecoar as suas palavras de resiliência não só nas ruas ucranianas, mas em todo o mundo. Recorde-se que esta é também uma guerra de informação e, ao contrário do opositor russo, Zelensky sabe utilizar as ferramentas de comunicação de massa a seu favor: foi através da campanha digital nas redes sociais e do estrelato que alcançou com a série televisiva Servo do Povo que Zelensky garantiu a eleição como primeiro presidente judeu da Ucrânia. Este é, por isso, um livro imprescindível para conhecer o perfil deste líder carismático que, perante uma ofensiva militar, disse: «Preciso de munições, não de uma boleia». 

 

 

 

 

 

Como complemento a estas “quase biografias”, abrimos A Porta da Europa – Uma história da Ucrânia

 

Para os ucranianos, esta invasão é mais uma página numa longa história de busca pela liberdade. Dos Romanos e Otomanos até ao Terceiro Reich e à União Soviética, foram vários os impérios que disputaram este território como uma porta de passagem entre o Ocidente e o Oriente. Neste livro, o historiador ucraniano Serhii Plokhy narra os momentos-chave da História do seu país, com foco nas constantes lutas pela própria soberania. Este bestseller do The New York Times é uma obra fundamental para contextualizar o conflito com a Rússia e conhecer os processos que levaram à definição das (atuais?) fronteiras da Ucrânia e à construção da identidade deste povo. 

 

 

 

 

Por fim, uma sugestão de leitura para conhecer a brutalidade e o absurdo da guerra pela voz de um dos mais importantes romancistas ucranianos, Andrei KurkovO autor apresentou Abelhas Cinzentas no dia 3 de outubro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, numa conversa com a jornalista luso-ucraniana Iryna Shev.

 

 

 

 

Estamos em 2017, no coração da zona cinzenta no Donbass, numa aldeia onde apenas (sobre)vivem dois “animigos” que aprenderam a conviver com a guerra como se fosse um mero vizinho desordeiro: o apicultor Sergey Sergeyich e Pashka. Com a chegada da primavera, Sergevich inicia a demanda de transportar as suas abelhas para outro local, onde conseguirão produzir mel que não esteja impregnado com o sabor amargo da pólvora. É nessa jornada pelo território ucraniano que se cruza com combatentes e cidadãos dos dois lados da frente de batalha, desarmando-os um a um com a sua inocência, simplicidade e moral irrepreensível. 

 

Este é um romance que todos os dias confirma a sua atualidade e que nos mostra a face humana da guerra. Através de um humor desconcertante, Kurkov transpõe para o papel a história de resistência daqueles que vivem a escassos metros das trincheiras e que encontram maneiras improváveis para seguir o seu rumo. Infelizmente, não é só ficção. 

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