Para
As fotografias de Valter Vinagre da série «Para» não mostram gente, mas é decididamente de gente que falam. Fazem-no de um modo subterrâneo, como subterrâneo é o fenómeno inscrito em todas elas. Uma homenagem fúnebre a gente que desapareceu do mundo dos vivos numa fracção de segundos. Porque a estrada estava mal pavimentada, porque o «relevê» da curva estava «ao contrário», porque havia óleo ou chuva na estrada, porque alguém não mediu bem a distância para uma ultrapassagem, porque alguém se distraiu a acender um cigarro ou a mudar um CD. Porque, porque, porque… as justificações são aqui pouco importantes. Estas imagens não penetram o círculo jornalístico e imediato da morte. Enunciam uma dor abstracta, mas não se apartam dela. As imagens de Vinagre falam, pois, da morte. Percorrendo as estradas do país, o fotógrafo encontrou estranhas manifestações funerárias de beira da estrada. Flores, coroas de flores assinalam trágicos acontecimentos rodoviários onde pessoas perderam a vida.