Autobiografia não escrita de Martha Freud
«Este é um romance sobre personagens históricas, mas não um "romance histórico", na medida em que pretende seguir/reconstituir/aproximar-se o mais possível da realidade, obrigando-se a usar sobretudo a interpretação (que as torna visíveis), reduzindo ao mínimo a fantasia (que iria "atraiçoá-las"). Apesar da subjectividade inevitável de tudo o que é escrito, procura ser "objectivo", porque alicerçado em documentos.
Uma vez que Freud sempre teve voz e Martha foi até 2011 silenciada e reduzida ao estereótipo de esposa, mãe e dona de casa, descobrir a sua personalidade "real" não me interessou menos do que a do homem célebre, complexo e multifacetado da sua vida. Aliás, neste caso a celebridade não importa, a matéria do livro é o diálogo de duas pessoas em igual medida importantes, que mutuamente se procuram, encontram e desencontram.
É possível que para o leitor (como no início para mim) as figuras de ambos se revelem muito diferentes do que esperaria. O que não considero uma perda, mas uma revelação surpreendente.»
Teolinda Gersão