Obra Poética II de Artur do Cruzeiro Seixas
Segundo volume chega às livrarias no dia em que comemoraria 100 anos
Em 2020, ano em que se celebraria o seu centésimo aniversário, a coleção elogio da sombra, da Porto Editora, iniciou a publicação da Obra Poética completa de Artur do Cruzeiro Seixas. O primeiro volume foi lançado em junho e o segundo volume chega às livrarias no dia 3 de dezembro, dia do seu aniversário.
«Diz Cruzeiro Seixas que o que pintou e escreveu são apenas fragmentos; “São fragmentos o que o meu dia a dia me dá; fragmentos de amor, fragmentos de génio, fragmentos de sonho etc, etc…, neste fragmento de país”. Por aqui seguimos, cegos pela intensidade da luz. Creio que é Jean Paulhan que refere “o furor poético do surrealismo”, e creio eu que é esse furor que passa nesta poesia como passa nessa África afinal ainda subjugada.», escreve a organizadora do volume, Isabel Meyrelles.
Decano da arte portuguesa, Artur do Cruzeiro Seixas é um dos nomes incontornáveis do movimento surrealista, do qual foi um dos principais precursores em Portugal. Com um vasto trabalho nas artes plásticas e visuais, foi também um poeta prolífico. «Penso em como os génios sempre independem do tempo e se definem pelo incrível.», escreveu Valter Hugo Mãe, curador da coleção. «Nesta vasta obra se encontra um surrealismo pleno, a relação mais indomável que ao espírito humano revela sobretudo o que tem de inexplicável e, ainda assim, profundamente necessário».
Sobre o autor
Decano da arte portuguesa e um dos grandes nomes do Surrealismo português e europeu, Artur do Cruzeiro Seixas nasceu em 1920, na Amadora. No seu longo percurso artístico, conta com uma fase expressionista, outra neo-realista e outra, com início no final dos anos 40, mais prolongada, em que integra o movimento Surrealista Português, ao lado de Mário Cesariny, Carlos Calvet, António Maria Lisboa, Pedro Oom ou Mário Henrique Leiria. Foi um dos seus precursores e atualmente é considerado um dos seus máximos expoentes, considerando-se que o surrealismo fantástico visível na sua obra tenha tido como principal inspiração o trabalho do artista De Chirico. É autor de um vasto trabalho no campo do desenho e pintura, mas também na poesia, escultura e objectos/escultura. No ano de 1952, foi viver para Angola, onde realizou várias exposições individuais e projetos na área da museologia. Em 1964, fugindo da guerra colonial que se vivia, decidiu empreender uma viagem pela Europa. No seu percurso conta inúmeras exposições individuais e coletivas em importantes museus e galerias, em Portugal e no estrangeiro, e com diversos prémios e distinções. Em outubro de 2012, a Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu-lhe a Medalha de Honra em forma de reconhecimento pela sua longa e sólida carreira artística, como pintor e poeta. Em outubro de 2020 foi agraciado pela Ministra da Cultura, Graça Fonseca, com a Medalha de Mérito Cultural, “reconhecimento institucional, mas é também um reconhecimento pessoal de alguém que se junta aos muitos que o admiram e que em si reconhecem um olhar que sempre viu mais longe e mais profundo”.
Morreu a 8 de novembro, em Lisboa, prestes a completar 100 anos.
Sobre o livro
Tenho as mãos sujas de poesia
o caminho lacerado por certas aves,
o corpo em farrapos.
Com este absorto entardecer
por sobre os ombros
olho o espaço.
Aberta a paisagem inquieta
espera
inocente e inanimada.
Estamos frente a frente
como duas sombras inúteis
caídas ao lado da estrada.
Luanda 55
Artur do Cruzeiro Seixas é agora um homem com o tamanho de cem anos. Cada um dos seus gestos é um século em movimento. Penso nisso em todos os encontros, penso em como os génios sempre independem do tempo e se definem pelo incrível.
Na ansiedade de Cruzeiro Seixas, essa imparável pulsão começadora, nada se exclui. Tantas vezes lhe ouvi o protesto contra qualquer existência estúpida, aquela incapaz do sensível e do criativo, aquela incapaz da humanização que a arte e o conhecimento comportam. Para o grande e genial mestre a vida é uma gula que se revela em todas as formas de maravilha, a partir do fascínio ou do susto, a partir do belo e do que se torna belo em seu genuíno tremendismo.
A elogio da sombra repõe agora os volumes organizados por Isabel Meyrelles e que atónito, há umas décadas, encontrei inéditos na casa do mestre, ainda na carismática casa da Rua da Rosa. Mais adiante, daremos à estampa um quarto volume recolhendo os poemas dispersos. Nesta vasta obra se encontra um surrealismo pleno, a relação mais indomável que ao espírito humano revela sobretudo o que tem de inexplicável e, ainda assim, profundamente necessário.
Uma das figuras maiores do surrealismo do mundo, Artur do Cruzeiro Seixas ergue a poesia como “a boca que olha”. Tão feita do improvável quanto de presciência. Graça alquímica. A transcendência dos que foram eleitos para ver.
Valter Hugo Mãe
A Axila de Egon Schiele
Sobre o livro
(O gato contemporâneo)
Isto que o meu gato caça e esfarrapa
é um sapo cocas que saiu no
happy meal.
O meu gato não conheceu mato
e nunca caçou mais que naturezas mortas
e representações.
Tenho defendido que o século pertence às mulheres, ao seu paradigma enfim livre, ou ao menos insubmisso como nunca, fazendo também com que as poetas se tornem muito mais vibrantes do que os poetas recentes.
O André Tecedeiro, contudo, comporta uma retumbante excepção. Às voltas com as questões do corpo, muito outras das que foram trabalhadas exaustivamente por grande tempo no século XX, o seu lugar é uma das últimas novidades masculinas no que ao debate poético diz respeito. O homem que Tecedeiro implica é aquele que falta, o que faz falta, o que ainda nos pode ensinar e deslumbrar.
Apela à minha sensibilidade sobretudo o jeito que tem de se estudar sem sucumbir à angústia. Não lhe falta contundência, clareza ou sobriedade, mas não se entrega exactamente a um aparato trágico de efeitos alardes ou exagerados. É um pensador junto à ciência possível. Interessa-lhe conhecer e mudar. Interessa-lhe a arte e a sabedoria, como se estivesse ao pé de educar a própria natureza. Ao pé de educar o corpo.
Considero-o um dos mais importantes poetas portugueses surgidos neste século. Breve e de aparência simples, a sua profundidade é uma hipótese de completude. Essa impossível coisa para que, por utopia, tendemos a correr.
Valter Hugo Mãe
Sobre o autor
Nasceu em Santarém em 1979 e viveu em Portalegre até 1997. Vive e trabalha em Lisboa.
Estudou Escultura e Pintura (licenciatura) na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Artes Visuais Intermédia (mestrado) na Universidade de Évora e Psicologia na Universidade de Lisboa, com especialização em Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações.
Enquanto artista plástico, realizou mais de cinco dezenas de exposições e foi nomeado para os prémios Fuso (2015); Cena d’Arte (2004); Celpa-Vieira da Silva (2003); Fidelidade Jovens Pintores (2002).
Os seus poemas, agora reunidos, foram publicados nos livros Rebento-Ladrão (Tea for One, 2014), Deitar a Trazer (Douda Correria, 2016), O Número de Strahler (Do Lado Esquerdo, 2018) e A Arte da Fuga (Do Lado Esquerdo, 2019), em revistas literárias como Flanzine, A4, Nervo, Tlön, Theodora, Tutano, Modo de Usar e nas antologias Mixtape II (Do Lado Esquerdo, 2018) e Casa (Do Lado Esquerdo, 2016).
A sua poesia foi tema de uma sessão do Clube dos Poetas Vivos, (Teatro Nacional D. Maria II, 2019), de uma leitura encenada do ciclo Da Voz Humana (Livraria Ferin, Lisboa, 2019) e de diversos programas de rádio e podcasts.
Teve o raro privilégio de escolher o seu próprio nome, que usa legalmente desde 2017.
Torpor, de Luís Adriano Carlos
No dia 10 de setembro chega às livrarias Torpor, de Luís Adriano Carlos, um novo título da coleção elogio da sombra, coordenada por Valter Hugo Mãe e publicada pela Porto Editora.
Luís Adriano Carlos é docente na Faculdade de Letras da U.Porto, com carreira académica como professor de literatura e estética, sua exclusiva atividade profissional até hoje, a par de incursões na crítica, no ensaísmo e na intervenção cultural. Apesar de ser autor de mais de 200 títulos – entre artigos e obras de pendor ensaístico – a sua composição poética é substancialmente mais escassa e esparsa. Esta obra, Torpor, marca um regresso à publicação de poesia e reúne poemas inéditos e dispersos publicados em revistas e obras coletivas, compostos entre 2002 e 2006, data de publicação do seu último livro. Em Torpor única exceção é Toda a metáfora, poema de 1982 que antecede a publicação do seu primeiro livro, A Mecânica do Sexo XX.
O modo de Luís Adriano Carlos é a torrente, uma poética de certa demasia em que a função narrativa nos induz ao febril e ao impossível de conter, pode ler-se no texto de Valter Hugo Mãe que acompanha esta obra, em que o sentimento exerce um total (mas subtil) domínio sobre a técnica. Luís Adriano Carlos não se enquadra nem se arruma no que vá abundante num ou noutro tempo. É um estrangeiro. Caminha na solidão. Também isso é um tesouro.
A apresentação de Torpor está marcada para o dia 10 de setembro, na Feira do Livro do Porto. A sessão decorre a partir das 18:30, no Salão Independente (mezzanine da Galeria Municipal).
Sobre o livro
Tenho o coração a céu aberto e andam-me no ar os sentimentos,
bate-me o sangue a ritmo incerto no mistério do sentimento aéreo.
À minha volta a vida continua e o tempo circula pelas pedras da rua,
há o transeunte que avança e recua consoante a esperança e a pessoa,
há a própria confiança da vizinhança no lento vento que me leva o sentimento,
há este estar desperto no meio do deserto, de coração aberto a descoberto,
há finalmente a emoção indiferente de me sentir sentido por tanta gente.
Um coração a céu aberto é um coração aflito que bate perto do infinito,
é toda uma vida por viver que do passado me vem na alma de ninguém
como se a voz de um destino atroz e cristalino cheio de amor e desdém.
Bate-me o sangue a ritmo incerto, a certa distância de mim, empedernido e concreto,
e andam-me os sentimentos no ar e não tem fim a sensação de os respirar.
O modo de Luís Adriano Carlos é a torrente, uma poética de certa demasia em que a função narrativa nos induz ao febril e ao impossível de conter. Diz-se por imperativo. Ainda que o sujeito poético seja ansioso na especificação, procurando aclarar, há uma urgência que nos convence também de sua deriva, verdadeiramente fazendo do verso um compulsivo desajuste, fascinado com sua própria encenação do rigor e ávido por entender como caímos, como somos feitos para cair.
O seu poema é um exercício de força, assunção de uma eloquente defesa perante o mistério do mundo e seus propósitos sempre torpes e falhos. Não é possível que retratemos o indivíduo sem abismo, e o que mais me impressiona nestes versos é a denúncia da pessoa como esse lugar do mais obscuro e, ao mesmo tempo, oportunidade de domínio, fúria ou euforia. Pressentimos sempre, perante certa miséria de se ser, a proximidade da revolta, aquela força que chega a ser também formal, dotando o poema de uma grade, uma armadura estrutural que o reforça enquanto inequívoco combate por palavras.
Nunca foi um poeta para as modas, Luís Adriano Carlos não se enquadra nem se arruma no que vá abundante num ou noutro tempo. É um estrangeiro. Caminha na solidão. Também isso é um tesouro.
Valter Hugo Mãe
Sobre o autor
Luís Adriano Carlos nasceu em 1959. Começou a aprender a difícil arte do verso como letrista de canções. Em 1977, participou na gravação de um disco EP numa editora portuense, como vocalista, instrumentista, letrista e compositor. Só no início do séc. XXI voltaria a retomar o interesse pela criação musical, através do alter-ego Aristoxen, compositor in the box de peças electrónicas em estilo fusion, clássico e experimental.
Em 1983, tendo já difundido poemas dispersamente, estreou-se com um livro de título extravagante, A Mecânica do Sexo XX, logo depois de ter iniciado, na Faculdade de Letras do Porto, a carreira académica como professor de literatura e estética, sua exclusiva actividade profissional até hoje, a par de incursões na crítica, no ensaísmo e na intervenção cultural.
Quando publicou o segundo livro de poemas, Invenção do Problema (1986), soube por um sábio professor entretanto jubilado que não se fazia carreira académica com versos, mas ainda não compreende com que é que se faz. Deu a lume outros livros de poesia até 2006 e agora regressa.
Foi galardoado, por júri de cinco elementos, com o Grande Prémio de Ensaio Literário da Associação Portuguesa de Escritores / Portugal Telecom em 1999, a pretexto de um estudo sobre a fenomenologia do discurso poético. Recebeu outros prémios de ensaio e poesia.
Deu à estampa cerca de duzentos títulos, entre artigos e livros, alguns de outros autores por si editados. Assegura que não escreve poesia com pontualidade. É autor de obras de pintura, uma das suas paixões mais discretas.
Obra Poética de Artur do Cruzeiro Seixas na Elogio da Sombra
Primeiro volume da poesia completa do autor chega às livrarias no dia 18 de junho
No dia 18 de junho, chega às livrarias o primeiro volume da Obra Poética de Artur do Cruzeiro Seixas, integrado na elogio da sombra, coleção de poesia coordenada por Valter Hugo Mãe e publicada pela Porto Editora.
Decano da arte portuguesa, Artur do Cruzeiro Seixas é um dos nomes incontornáveis do movimento surrealista, do qual foi um dos principais precursores em Portugal. Com um vasto trabalho nas artes plásticas, Cruzeiro Seixas é também um poeta prolífico, um homem com o tamanho de cem anos.
Em 2020, ano em que se comemora o centenário do nascimento do autor, a elogio da sombra inicia a publicação da produção poética do autor, numa recolha organizada por Isabel Meyrelles, também ela uma referência do panorama artístico do nosso país.
“Nesta vasta obra se encontra um surrealismo pleno, a relação mais indomável que ao espírito humano revela sobretudo o que tem de inexplicável e, ainda assim, profundamente necessário”, escreve Valter Hugo Mãe. Para o curador da coleção, Artur do Cruzeiro Seixas “ergue a poesia como “a boca que olha”. Tão feita do improvável quanto de presciência”.
Sobre o autor
Decano da arte portuguesa e um dos grandes nomes do Surrealismo português e europeu, Artur do Cruzeiro Seixas nasceu em 1920, na Amadora. No seu longo percurso artístico, conta com uma fase expressionista, outra neo-realista e outra, com início no final dos anos 40, mais prolongada, em que integra o movimento Surrealista Português, ao lado de Mário Cesariny, Carlos Calvet, António Maria Lisboa, Pedro Oom ou Mário Henrique Leiria. Foi um dos seus precursores e atualmente é considerado um dos seus máximos expoentes, considerando-se que o surrealismo fantástico visível na sua obra tenha tido como principal inspiração o trabalho do artista De Chirico. É autor de um vasto trabalho no campo do desenho e pintura, mas também na poesia, escultura e objectos/escultura. No ano de 1952, foi viver para Angola, onde realizou várias exposições individuais e projetos na área da museologia. Em 1964, fugindo da guerra colonial que se vivia, decidiu empreender uma viagem pela Europa. No seu percurso conta inúmeras exposições individuais e coletivas em importantes museus e galerias, em Portugal e no estrangeiro, e com diversos prémios e distinções.
Em outubro de 2012, a Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu-lhe a Medalha de Honra em forma de reconhecimento pela sua longa e sólida carreira artística, como pintor e poeta.
Sobre o livro
Cada poema
cada desenho
são os marinheiros que navegaram na minha cama
são uma revolução não só gritada na rua
são urna flor nascendo nos campos
e é o luar e a sua magia
e é a morte que não me quer
e é UMA MULHER
surpreendente como um marinheiro
luminosa como a palavra REVOLUÇÃO
tão natural como o malmequer
tão metafísica como o luar
tão desejada como a morte hoje
A MINHA MÃE
infinita e profunda
como o mar.
Áfricas
Artur do Cruzeiro Seixas é agora um homem com o tamanho de cem anos. Cada um dos seus gestos é um século em movimento. Penso nisso em todos os encontros, penso em como os génios sempre independem do tempo e se definem pelo incrível.
Na ansiedade de Cruzeiro Seixas, essa imparável pulsão começadora, nada se exclui. Tantas vezes lhe ouvi o protesto contra qualquer existência estúpida, aquela incapaz do sensível e do criativo, aquela incapaz da humanização que a arte e o conhecimento comportam. Para o grande e genial mestre a vida é uma gula que se revela em todas as formas de maravilha, a partir do fascínio ou do susto, a partir do belo e do que se torna belo em seu genuíno tremendismo.
A elogio da sombra repõe agora os volumes organizados por Isabel Meyrelles e que atónito, há umas décadas, encontrei inéditos na casa do mestre, ainda na carismática casa da Rua da Rosa. Mais adiante, daremos à estampa um quarto volume recolhendo os poemas dispersos. Nesta vasta obra se encontra um surrealismo pleno, a relação mais indomável que ao espírito humano revela sobretudo o que tem de inexplicável e, ainda assim, profundamente necessário.
Uma das figuras maiores do surrealismo do mundo, Artur do Cruzeiro Seixas ergue a poesia como “a boca que olha”. Tão feita do improvável quanto de presciência. Graça alquímica. A transcendência dos que foram eleitos para ver.
Valter Hugo Mãe
Andreia C. Faria vence Prémio Literário Fundação Inês de Castro 2019
Prémio distingue Alegria para o fim do mundo, publicado na coleção de poesia elogio da sombra
A poeta Andreia C. Faria é a vencedora do Prémio Literário Fundação Inês de Castro 2019, com o livro Alegria para o fim do mundo, publicado pela Porto Editora na coleção de poesia elogio da sombra.
Andreia C. Faria nasceu no Porto, em 1984. Publicou em 2008 o seu primeiro livro de poemas, De haver relento (Cosmorama Edições). Seguiram-se Flúor (Textura Edições, 2013), Um pouco acima do lugar onde melhor se escuta o coração (Edições Artefacto, 2015) e Tão Bela Como Qualquer Rapaz (Língua Morta, 2017), que recebeu o Prémio SPA 2018 para Melhor Livro de Poesia. Em 2019, Alegria para o fim do mundo é publicado pela Porto Editora na elogio da sombra, inaugurando esta coleção com curadoria de Valter Hugo Mãe.
Na nota que acompanha esta obra, Valter Hugo Mãe descreve o trabalho de Andreia C. Faria como um dos “mais urgentes, magníficos, da poesia contemporânea. A sua profundidade, uma contenção que não a impede da frontalidade, o enunciado terrivelmente irónico, o rasgo inesperado de cada verso, fazem do seu texto uma novidade por classificar, demarcando-a inclusive do colectivo de mulheres poetas que hoje escrevem também em força e bastante esplendor.»
a oratória dos mansos de Jorge Melícias
Um conjunto de poemas inéditos e uma rigorosa reunião da poesia já publicada pelo autor no novo título da coleção elogio da sombra
Hoje, dia 12 de março, chega às livrarias de todo o país a oratória dos mansos, de Jorge Melícias, segundo volume do Ano 2 da elogio da sombra, coleção de poesia publicada pela Porto Editora com curadoria de Valter Hugo Mãe.
Para lá de uma exigente reunião da poesia do autor, a oratória dos mansos conta também com um livro de inéditos, Eu morrerei deste século às mãos de quem?. Composto por sonetos, este livro é descrito por Valter Hugo Mãe como “surpreendente poemário, descolado do poeta que foi, sem se negar, dessacraliza o verso, assumindo-o enquanto performático.”
Para o curador da coleção, a obra de Jorge Melícias é como “(…) uma fúria concêntrica, reduzindo o espectro do que é possível dizer para abarcar apenas uma essência de pendor utópico e já tão eloquente quanto louca.”.
Além da sua extensa produção poética, Jorge Melícias tem também sido responsável por traduzir para português a obra de vários autores, entre os quais Saint-John Perse, Leopoldo María Panero, Rosario Castellanos ou ainda Martín López-Vega.
Sobre o livro
Que sequaz ou régulo
Que sequaz ou régulo
sujeitará o meu desdém?
Eu morrerei deste século
às mãos de quem?
Quem de entre vós,
desagravando o meu peso,
me elevará a algoz
do meu próprio desprezo?
Quem me jogará a sorte?
A que émulo do meu émulo
deverei eu o que me devo?
Ser da minha morte
o inteiro asco do meu século
e do meu século por fim coevo.
A obra de Jorge Melícias é uma fúria concêntrica, reduzindo o espectro do que é possível dizer para abarcar apenas uma essência de pendor utópico e já tão eloquente quanto louca. A visão lúcida do sentido do mundo é inevitavelmente perto do abismo, onde tudo se perde, a começar pela glória do conhecimento. Conhecer e ignorar encontram-se, estados iguais, como condenação de regresso ao início de todas as coisas ou confirmação de imprestabilidade.
Agora que reúne a sua obra na mais severa e rigorosa edição, Melícias junta dois inéditos, onde adensa e depura o que já reconhecemos, com "a oratória dos mansos", e denuncia uma inversão, com "eu morrerei deste século às mãos de quem?". Neste último e surpreendente poemário, descolado do poeta que foi, sem se negar, dessacraliza o verso, assumindo-o enquanto performático. Nunca se desmascarou tanto. Jogando com a fantasia e permitindo que esta seja sincera: uma mentira ou ilusão, um artifício, e já nunca uma captura da voz de Deus.
Os poetas são feitos de sua tese e seu contrário. Nem que a perversão do que escreveram fique apenas nas mãos de quem os lê, o certo é que essa perversão é parte da obra, pressentida no primeiro vocábulo. Agora, Jorge Melícias toma em sua própria mão tal ofício. Aqui vai o verso e seu perverso. No fundo, o que sempre se pressentiu, porque nenhuma utopia deixa de estar à mercê da ternura e da corrupção. Assim a vida.
Valter Hugo Mãe
Sobre o autor
Jorge Melícias nasceu em 1970.
Autor de vários livros de poesia de que destacamos as recolhas disrupção (2009), alvídrio (2013) e hybris (2015). Como tradutor, verteu para português, entre outros, Saint-John Perse, Leopoldo María Panero, Antonio Gamoneda, Miriam Reyes, Hugo Mujica, María Negroni, Saint-Pol-Roux, Rosario Castellanos, José Antonio Ramos Sucre, Martín López-Vega, Julio Llamazares, José Sbarra, uma Antologia da poesia cubana contemporânea e uma Antologia de poetas suicidas de língua espanhola, mortos entre o princípio do séc. XX e o princípio do séc. XXI.
Poemas do autor encontram-se traduzidos para línguas como o espanhol, o inglês, o francês, o finlandês, o servo-croata, o letão ou o lituano e publicados em várias antologias e revistas, nacionais e estrangeiras, como a Inimigo Rumor, a Confraria do Vento, a Zunái ou a Coyote (no Brasil), a Literatura ir Menas ou a Naujoji Romuva, de Vilnius, a 26, studies of poetry and poetics, ou a 2nd Mind, de São Francisco.
Encontra-se representado em algumas das mais importantes recolhas nacionais, como o volume lançado em 2010, pela Porto Editora, Poemas Portugueses – Antologia da poesia portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI –, e em algumas recolhas internacionais como a Antologia Photomaton – nueva lírica portuguesa (2012, Casa Editorial HUM, Montevideo) e a Antologia Aquí, en esta Babilonia (2018, Amargord Ediciones, Madrid).
Um livro de ensaios sobre a sua poesia, intitulado A poesia do excesso – rumo às vísceras de Jorge Melícias, foi editado em 2011, no Brasil, pela TodaPalavra Editora.
Uma recolha de três dos seus livros, sob o título Disruption, saiu nos E.U.A, pela editora Durationpress, de Los Angeles.
Cláudia R. Sampaio inicia Ano 2 da coleção elogio da sombra
Já não me deito em pose de morrer
No próximo dia 23 de janeiro, a coleção de poesia elogio da sombra, com curadoria de Valter Hugo Mãe, entra no seu Ano 2, com a chegada às livrarias do seu décimo título. Já não me deito em pose de morrer [poemas escolhidos] marca a estreia de Cláudia R. Sampaio no catálogo da Porto Editora.
Com os poemas inéditos de A mulher da cor de um lírio e vários poemas dispersos agora organizados sob a forma de Duas casas e um adeus, Já não me deito em pose de morrer reúne ainda os livros Outro nome para a solidão, 1025mg e A primeira urina da manhã. Uma conversa entre a autora e Valter Hugo Mãe, intitulada O absurdo é tolerável, serve como epílogo desta antologia.
“Penso na poesia de Cláudia R. Sampaio como no discurso furioso que apenas alguém de profunda ternura poderia fazer” e expressão “das mais contundentes da contemporaneidade”, erguendo-se numa urgência que não teme expor a vulnerabilidade, mapeando e glorificando feridas através dos versos. “Toda a poesia abeira a terapêutica, e aqui a terapêutica é fundamental, inclusive como forma de classificar cada detalhe do mundo, como protesto e como alegria do possível. A loucura e a terapia são íntimas e fertilizam, a um tempo, o pensamento e a sabedoria.”, escreve o curador da coleção no texto de abordagem a este volume.
Sobre o livro
(…)
Porque a mulher estava farta das coisas visíveis
e pensava: quero procurar as invisíveis
Normalmente ninguém vê o que se vê,
ninguém encontra o que transparece
É preciso acordar da cor de um lírio
e ir contra as coisas, rodando ao contrário
Normalmente as mulheres não podem ser o contrário
nem podem ser tudo o que quiserem
Por isso a mulher escolheu ser o mundo,
usando um chapéu magnífico,
não por fora, mas por dentro,
visivelmente translúcida
(…)
Penso na poesia de Cláudia R. Sampaio como no discurso furioso que apenas alguém de profunda ternura poderia fazer. Sua tragédia, explícita, frontal, é a da saber a delicadeza quando tudo em seu redor propende para o grotesco e sua cabeça desafia para duvidar continuamente. Magnífica poeta, seu impasse é constante: "Quem sabe se não é agora que / possuo toda a loucura / e me faço mulher // Eu que da cintura para cima sou triste / e daí para baixo uma praia / a quem explodiram o mar / para depois o transformarem em / homem e em assombro também".
A expressão de Cláudia R. Sampaio é das mais contundentes da contemporaneidade. Não se ergue panfletária, ergue-se numa urgência íntima que não teme expôr, usando sua vulnerabilidade para força, como alguém que mapeia as feridas procurando cicatrizá-las, e também glorificá-las, com o verso. Toda a poesia abeira a terapêutica, e aqui a terapêutica é fundamental, inclusive como forma de classificar cada detalhe do mundo, como protesto e como alegria do possível. A loucura e a terapia são íntimas e fertilizam, a um tempo, o pensamento e a sabedoria.
Que maravilha o desabrido desta poesia. Que maravilha que não seja demasiado limpa, demasiado educada, e se coloque sobretudo enquanto necessidade além da razão e de qualquer etiqueta. Uma poesia que redime tanta coisa mas que também gratamente infecta: "desta vida à outra / castigaram-nos com abraços / afogando o adeus corcunda / adiantado pelas colisões das / palavras / veneno abençoado / do nosso lar.".
Valter Hugo Mãe
Sobre a autora
Cláudia R. Sampaio é uma poeta e pintora nascida em Lisboa (1981). Tem cinco livros de poesia publicados até ao momento: Os dias da Corja, A primeira urina da manhã, Ver no escuro, 1025 mg e Outro nome para a solidão. Também está publicada no Brasil com a trilogia ‘Inteira como um coice do Universo’ (Edições Macondo). Em 2017 estreou-se na escrita para teatro, com uma peça para a 10.ª edição do festival PANOS, na Culturgest. Atualmente é artista residente do projeto MANICÓMIO. Vive em Lisboa com as suas duas gatas: Polly Jean e Aurora.
Sob a forma do silêncio
elogio da sombra encerra o seu primeiro ano com a publicação de Emanuel Madalena, poeta estreante
No próximo dia 28 de novembro, a Porto Editora publica Sob a forma do silêncio, o livro de estreia de Emanuel Madalena e o nono livro da coleção de poesia elogio da sombra, coordenada por Valter Hugo Mãe.
Nascido em Aveiro, em 1986, Emanuel Madalena é doutorando em Estudos Literários pela Universidade de Aveiro. Com várias publicações dispersas, vem recebendo distinções em prémios literários, tendo sido também selecionado para a mostra nacional do Concurso Jovens Criadores e participou na VIII Bienal de Jovens Criadores da CPLP.
Apresenta-se agora com um primeiro livro “maduríssimo”. O poema é território de perigo e onde se joga o essencial. Tudo “quanto é seguro é deixado fora da poesia” e é no verso que se troca a modéstia da voz / pelo contrabando da língua. “Entre o vocábulo e o indizível, o poema é a oferenda possível, vastidão mais absoluta que há”, escreve o curador da elogio da sombra sobre esta obra que encerra o primeiro ano de vida desta coleção.
Dada a conhecer em fevereiro, a elogio da sombra apresentou-se com quatro títulos: Autópsia [poesia reunida], de José Rui Teixeira, um fugaz regresso à vida editorial da poeta Isabel de Sá com O real arrasa tudo, uma antologia e também inéditos de Andreia C. Faria em Alegria para o fim do mundo e a estreia de Luís Costa com Amar no tempo das grandes maldições.
A estes quatro títulos seguiram-se Uma falha nos dentes, de João Gesta e Poesia, do surrealista Fernando Lemos, volume que compila toda a obra deste poeta, artista plástico e designer.
No rasto dos duendes eléctricos (1978-2018), de Adolfo Luxúria Canibal, e Um dia tudo isto será meu [uma antologia], de João Habitualmente, acostam-se a esta estreia de Emanuel Madalena, completando assim o conjunto de nove obras publicadas durante 2019.
Sobre o livro
Memento mei
Que as palavras se habituem à raridade do ofício,
ao conforto da minúcia,
ao sentido da gratidão,
que nasçam brilhantes e abruptas,
com as feições efémeras do pensamento —
e é tudo, excepto mais confusões.
Por isso ofereço-te um fim que não acabe o mundo,
por hipótese um prefácio,
um livro primeiro que adivinhe a urgência
do que não foi escrito,
e espero que encontres a vocação
de escavar as trevas no limite das palavras,
e talvez então se ensaie a poesia
toda de silêncio.
«É poderosa a imagem com que Emanuel Madalena se apresenta, insinuando a poesia como modo de trocar "a modéstia da voz / pelo contrabando da língua". Tudo quanto é seguro é deixado fora da poesia. A estreia do poeta é a inauguração do perigo, proposta de uma angústia outra vez original.
Corajoso o regresso à "torre", tão elevado quanto cercado por seu ponto de vista, sem completude, apenas intensificação. Não há possibilidade de completude nem de sossego. Todos os planos serão um vício. E isso é imediatamente Wittgenstein, cuja pessoa e obra são o eixo de todo o livro. Wittgenstein é a afinação de cada verso, para a lucidez perante o fracasso e para o irresistível da amorosidade. Ele é a profunda intimidade do livro, convocando amantes, cúmplices, aludindo ao dia da morte, inscrevendo nos versos de Madalena a mesma folia pelo rigor de um pensamento que, afinal, conflitua sempre mais. Como uma matemática que se ramifica e complexifica até ao infinito, na tremenda abstracção ou no já indizível, sem mais prova senão uma certa fé, um certo génio.
Maduríssimo primeiro livro, construído na ansiedade crítica do olhar "sob a forma do eterno". Se o poeta claudica entre erro e fracasso, seu sentido está em depurar, de tudo o que pode saber, o que é fantasia e o que sobra de verdade. Entre o vocábulo e o indizível, o poema é a oferenda possível, vastidão mais absoluta que há. Impressiona-me que Madalena estreie magnificamente consciente da vastidão mais absoluta que há.»
Valter Hugo Mãe
Sobre o autor
Emanuel Madalena nasceu em Aveiro, em 1986, e é mestre em Estudos Editoriais e doutorando em Estudos Literários na Universidade de Aveiro. É também mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto. Foi duas vezes seleccionado para a mostra nacional do Concurso Jovens Criadores, participou na VIII Bienal de Jovens Criadores da CPLP e vem recebendo distinções em vários prémios literários. Até agora, dispersou contos e poemas por eventos e publicações digitais, analógicas, antológicas e arqueológicas. Este é o seu primeiro livro.
Um dia tudo isto será meu
A antologia de João Habitualmente na coleção elogio da sombra
Das noites com autores e diseurs na cave do Pinguim às Quintas de Leitura no Rivoli, há quase um quarto de século que o nome João Habitualmente é um sinonimo de poesia na cena cultural da cidade do Porto. Autor prolífico, com grande parte da obra poética completamente esgotada e indisponível ao grande público, Um dia tudo isto será meu, uma cuidada antologia publicada na Porto Editora, na coleção elogio da sombra, chega agora às livrarias para colmatar essa falha.
Há na poesia de João Habitualmente uma impressão de ironizar tudo em favor de certa nostalgia, afirma o coordenador da coleção, Valter Hugo Mãe. Numa contida desgraça que tende para um efeito cómico, muitas vezes numa atitude de desfaçatez em relação ao que o rodeia, protesta, insulta e ama brilhantemente. (…) Fere os poemas na sua rama mais lírica, por vezes meio romântica, a prometer desfechos bem comportados que nem sempre se consumam.
Um dia tudo isto será meu, a nova morada da poesia de João Habitualmente, foi organizado e também prefaciado por Isaque Ferreira, um dos mais marcantes leitores de poesia e voz oficiosa deste poeta, pseudónimo de Luís Fernandes, psicólogo, professor universitário e uma das figuras fundadoras da área de estudos em comportamentos desviantes no nosso país.
A Sala de Leitura da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto, receberá a apresentação de Um dia tudo isto será meu no dia 17 de outubro, quinta-feira, pelas 18:45. As leituras estarão a cargo dos diseurs Isaque Ferreira e Rui Spranger.
Quarenta anos de poesia de Adolfo Luxúria Canibal reunidos em livro
No rasto dos duendes eléctricos
No dia 19 de setembro chega às livrarias o oitavo volume de elogio da sombra, a coleção de poesia coordenada por Valter Hugo Mãe. No rasto dos duendes eléctrios (Poesia 1978 – 2018) é o título desta antologia poética de Adolfo Luxúria Canibal, fundador e carismático vocalista da banda rock Mão Morta.
Não é possível a cultura portuguesa recente passar ao lado da poesia que aqui se reúne, escreve o coordenador da coleção no texto que acompanha esta obra. Entre amores abissais e políticas grotescas, alucinações de teor mais ou menos farmacêutico ou cidades cheias de passado, a poética de Adolfo Luxúria Canibal é a contemporaneidade completa, uma avidez, com seu modo próprio de se assumir e denunciar ao mesmo tempo. Sem culpa. Apenas força.
Os 40 anos de poesia e rastilho de contracultura reunidos em No rasto dos duendes eléctricos são ainda enquadrados num capítulo intitulado A inocência é ilegítima, que transcreve uma conversa entre Valter Hugo Mãe e Adolfo Luxúria Canibal.
As primeiras apresentações deste livro estão marcadas para o dia 21 de setembro, a partir das 21:00, na Livraria 100.ª Página, em Braga; e para Coimbra, no dia 5 de outubro, no foyer do Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), às 17:00, e enquadrada no programa da Festa da Praça da República.
Além do texto de Valter Hugo Mãe, Poesia conta também com uma entrevista de Victor Ferreira Rocha e de vários fotogramas do seu filme.
Poesia, de Fernando Lemos, em exposição no MUDE
Apresentação de obra poética do artista acontece no dia 15 de junho, às 17:00, com vários convidados especiais.
No dia 19 de junho chega às livrarias um novo volume da elogio da sombra, publicada pela Porto Editora, com coordenação de Valter Hugo Mãe. Poesia, do luso-brasileiro Fernando Lemos, é o sexto título desta coleção de poesia. Além de recolher a obra poética do autor, conta ainda com uma secção de poemas inéditos e dispersos, intitulada 500 anos de segredos. A apresentação pública está marcada para dia 15 de junho, às 17:00, no Torreão Poente do MUDE – Museu do Design e da Moda, Coleção Francisco Capelo, em Lisboa.
A arte de Fernando Lemos é uma ansiedade intensa pelo exercício da Liberdade(...) um dos exemplos esplendorosos da estetização de algo que começa por ser uma estratégia psiquiátrica e se faz arte, corrente artística e de implicações ideológicas ou filosóficas, escreve Valter Hugo Mãe no texto que acompanha a obra. Provocador, frontal, imprevisível, visual e sempre atual: agora com 93 anos, o modernista continua a envolver-se nos debates culturais e políticos de Portugal e do Brasil, onde vive há 66 anos e onde lutou contra as ditaduras de ambos os países.
A sessão de apresentação está integrada no ciclo de homenagem ao artista, que irá estar patente até setembro deste ano. O livro é apresentado pelo cineasta e argumentista Miguel Gonçalves Mendes, em conversa com Fernando Lemos. A esta conversa seguir-se-á uma leitura de poemas pelos atores Filipe Duarte e Soraia Chaves e um momento musical muito especial. David Santos, mais conhecido como Noiserv, irá interpretar Palavras Lutam, tema concebido em colaboração com o cantor e ator Paulo Miklos, ex-vocalista da banda brasileira Titãs, e que é parte integrante da banda sonora do filme Retratação, do realizador Victor Ferreira Rocha (estreia prevista em dezembro de 2019).
Além do texto de Valter Hugo Mãe, Poesia conta também com uma entrevista de Victor Ferreira Rocha e de vários fotogramas do seu filme.
A poesia em destaque no Porto de Encontro
Andreia C. Faria, José Rui Teixeira e João Gesta protagonizam esta sessão especial.
No dia 19 de maio, a partir das 17:00, a Biblioteca Municipal Almeida Garrett recebe a 76.ª edição do Porto de Encontro, uma sessão especial que se realiza sob os auspícios da poesia, sua luz e sua sombra.
Na conversa com o jornalista Sérgio Almeida vão estar os poetas Andreia C. Faria e José Rui Teixeira, que irão falar sobre Alegria para o fim do mundo e Autópsia [poesia reunida], títulos já publicados na nova coleção de poesia da Porto Editora, elogio da sombra. Valter Hugo Mãe, o coordenador desta coleção, é um dos convidados especiais deste Porto de Encontro, onde irá também ser apresentado o livro do terceiro protagonista desta 76.ª edição: Uma falha nos dentes, de João Gesta.
As leituras de poemas ficam a cargo dos autores e Daniel Maia-Pinto Rodrigues, poeta e reconhecido dinamizador do panorama cultural portuense, é o segundo convidado especial desta sessão.
Parte da vida cultural da cidade desde 2011, este ciclo de conversas reuniu mais de 20.000 espectadores em 75 edições realizadas em diversos espaços da cidade, como a Casa da Música, o Teatro Rivoli, a Casa das Artes ou o Teatro Nacional São João.
A 76.ª edição do Porto de Encontro conta com o apoio da Câmara Municipal do Porto, da Antena 1, do Jornal de Notícias e das Livrarias Bertrand. Esta iniciativa está a ser divulgada em www.portoeditora.pt/portodeencontro e também no Facebook.
elogio da sombra: apresentada coleção de poesia coordenada por Valter Hugo Mãe
A poesia é a auscultação mais completa do indivíduo e do mundo, e elogio da sombra, nova coleção de poesia coordenada por Valter Hugo Mãe, propõe-se a ser lugar de encontro para quem não se basta com medianias e valida a vida a partir do seu amplo mistério, do quanto tem para revelar.
É com Autópsia [poesia reunida], de José Rui Teixeira, que a coleção elogio da sombra marca a sua entrada nas livrarias de todo o país. Neste livro estão reunidos dois ciclos de seis anos de trabalho do teólogo e poeta portuense: Diáspora e Antípoda, que são antecedidos por cinco inéditos de Eclipse (de 2018). Esta antologia conta ainda com textos do escritor Rui Nunes e da poeta espanhola Miriam Reyes.
O segundo dos quatro títulos é O real arrasa tudo, de Isabel de Sá. Poeta e artista plástica, representada extensivamente em antologias de poesia e de História da Língua Portuguesa, a obra desta autora rareava nas livrarias e é agora publicada num volume que colhe 15 anos de trabalho.
Alegria para o fim do mundo de Andreia C. Faria (vencedora, em 2018, do prémio SPA para melhor livro de poesia) é seguramente outro título incontornável, com a recolha de obras há muito esgotadas, cuidadamente revisitadas, e também com a inclusão de vários poemas inéditos.
O quarto livro da elogio da sombra é de Luís Costa. Amar o tempo das grandes maldições marca uma estreia madura, ponderada e de poemas “ao centro absoluto da existência”, como refere o coordenador da coleção.
Valter Hugo Mãe, sobre esta coleção, afirma: «A poesia é a auscultação mais completa do indivíduo e do mundo. Palavra que chega primeiro, esplendor expressivo, aventura e modo de estudo, a poesia é sentimento e pressentimento, perceção complexa que se coloca como experiência de plenitude e profundidade. O elogio da sombra é um lugar de encontro para quem não se basta com medianias e valida a vida a partir do seu amplo mistério, do quanto tem para revelar.»
A primeira apresentação pública das primeiras quatro obras publicadas acontece no dia 23 de fevereiro, às 12:00, durante a 20.ª edição do Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim.