Cântico negro
Na panorâmica que se estende por estas páginas, perfeitamente explicada nos brilhantes ensaios de abertura, José Régio não sucumbe à teologia mas fascina-se com o estabelecimento da sua própria teodiceia. A força do seu pensamento vem genuinamente desse «amor que há entre Deus e o Diabo», um lugar único e complexo que cria um indivíduo por definir, imparável, intenso.
Este é o Régio que me apaixona. Aquele que mediu o sangue e a sombra, aquele que recusou, debateu, analisou com rigor e jamais se rendeu. No seu verso sincero o mais que vejo é a dúvida, a impressão de que talvez se possa criar o Criador mas que, ainda assim, perderemos. É da condição humana tombar no abismo.
Valter Hugo Mãe