O secundário não é um drama: 8 pistas para adolescentes mais completos e felizes

Muitas vezes motivadas por um legítimo objetivo de promoção social e de darem o melhor aos seus filhos, muitas famílias sonham com um caminho no ensino secundário que culmine no dia da entrada na universidade. Mas este percurso pode afigurar-se difícil, quer na escolha do curso (área, ensino regular/profissional) quer na conclusão do mesmo.

1. Com base na minha experiência, um dos aspetos profundamente negativos neste processo é que entrar para um curso do ensino secundário pode assemelhar-se à entrada para um túnel que parece não ter fim, um percurso que demora, no mínimo, três anos, quer se goste ou não do “túnel” que se escolheu.

2. Aos 15 anos, os jovens estão a despertar para tudo o que é interessante na vida, tomando consciência de que precisam de espaço e de experiência para poderem escolher e arriscar. Nessa altura, em que começam a “levantar voo” por sua conta, tudo o que os jovens não precisam é que os obriguem a encerrarem-se três anos num percurso sem retorno, linear e, eventualmente, desinteressante.

3. Nesta etapa do seu desenvolvimento têm ainda pouca maturidade para escolherem o que querem para o seu futuro, daí o drama do abandono escolar no ensino secundário (quase 13% nos rapazes e 5,1% nas raparigas) e na universidade (“níveis de incidência de abandono mais elevados entre os homens que entre as mulheres”), e muitos nunca ou pouco usam o curso que concluíram, encontrando-se desempregados ou desiludidos com o caminho percorrido.

4. A adolescência não tem de ser um caminho malconduzido nem um percurso de insucesso. Talvez por termos um ensino secundário pouco aberto, pouco estimulante, castrador de uma adolescência feliz com projetos de vida ricos e valiosos, ele deve ser muito bem ponderado pelas famílias. Sugiro, por isso, que apostem na orientação vocacional e profissional.

5. Mas nem tudo está perdido! Há soluções! Hoje, depois da extensão para todas as escolas da legislação de Flexibilidade Curricular, que desde 2013 existia para o ensino privado, alguns estabelecimentos de ensino e alguns alunos mais audazes abrem já portas a um ensino secundário mais rico, com percursos mais abertos e variados, mais adequados à realidade de cada um. Por exemplo:

  • É possível substituir uma disciplina de um curso (vulgo área do ensino secundário) por uma de outro. São as chamadas permutas, que se podem fazer, preferencialmente, até ao fim do 2.o período do 10.o ano, mas que se podem estender até ao início do 11.o. Esta possibilidade já permite alguma maleabilidade e uma gestão muito interessantes, que merecem ser aprofundadas. Quão interessante seria permitir que todos os alunos que tivessem Física e Química A pudessem ter também Economia ou História, ou até História da Cultura e das Artes? Esse currículo mais alargado abre outras perspetivas aos nossos alunos e permite-nos educar cidadãos mais completos, que vão precisamente ao encontro do Perfil dos Alunos. E quão interessante poderia ser para o aluno de Línguas e Humanidades, que está “preso” a uma disciplina tão teórica como História A, ter uma disciplina científica, com bastante carga experimental, que lhe abra horizontes e até lhe permita ir para um curso superior nessa área?
  • Ao longo do meu percurso, encontrei ainda escolas que aproveitam as disciplinas de opção do 12.o ano para desenvolverem competências de gestão de projetos ou participação em concursos científicos externos à escola, como a realização de projetos pré-universitários relevantes.
  • Também tive conhecimento de escolas que elaboraram um currículo próprio para as disciplinas de opção do 12.o ano, com módulos variados de conhecimentos e de competências pré-universitárias.

De referir ainda que, até ao 5.o dia útil do 2.o período letivo, é possível mudarem de curso, desde que exista vaga, tal como está previsto no artigo 17 do Despacho Normativo n.o 10-B/2021.

6. Na hora de escolherem ou de ajudarem os vossos filhos a escolherem o curso do ensino secundário, ponderem se os querem empurrar para o tal túnel ou se preferem investir tempo à procura de escolas que, com os recursos e a legislação de que dispõem, criam percursos mais motivadores e dinâmicos. Há outros indicadores de qualidade das escolas que podem ajudar na hora da decisão da escolha do curso do ensino secundário, como, por exemplo:

  • a participação em projetos científicos, como a Semana da Ciência;
  • a participação no Parlamento dos Jovens;
  • a realização de olimpíadas das diferentes disciplinas;
  • a promoção de intercâmbios internacionais;
  • o desenvolvimento de projetos no âmbito das Eco-Escolas e a implementação do seu programa;
  • a realização de visitas de estudo;
  • a dinamização de palestras sobre assuntos do interesse dos jovens, com oradores cativantes;
  • a promoção de espetáculos artísticos;
  • a organização de exposições em que os alunos de Artes são convidados a exporem livremente as suas obras;
  • a existência de uma associação de estudantes ativa e de outras formas de estimular a liderança e o sentido de pertença a uma comunidade;
  • entre outros.

7. A seguir, sugiro que dediquem tempo à pesquisa no Info-Escolas para verificarem: se a escola que escolheram para o vosso filho tem boa classificação na capacidade de fazer progredir os alunos do 9.o para o 12.o ano; as taxas de retenção e de abandono escolar; o alinhamento das notas internas com as notas dos exames nacionais.

8. Por fim, e só apenas no fim, verifiquem em que lugar se encontra a escola nos rankings do ensino secundário.

Após uma análise cuidada das várias opções, as famílias poderão orientar os alunos para uma decisão informada e consciente na escolha do curso, para que não se sintam presos num túnel sem fim à vista! Desta forma teremos alunos mais felizes, livres e motivados, e, mais tarde, adultos realizados, membros sérios, responsáveis e positivos da sua família e da sociedade.

Diretor do Colégio de Ermesinde, escola católica. Exerce, desde 1990, funções letivas e de direção em escolas com cursos internacionais e, desde há seis anos, em escolas com o currículo português. Foi presidente da direção e é, atualmente, presidente da assembleia geral da AEEP, Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo.