A importância das atividades extracurriculares

Nunca, como agora, as atividades extracurriculares foram tão essenciais para o desenvolvimento das crianças e jovens, desde que na medida certa, para que possam continuar a ter momentos de brincadeira, descanso, estudo e tempo de qualidade em família!

As crianças passam cada vez mais tempo na escola e menos com a família. As dinâmicas familiares têm vindo a alterar-se nas últimas décadas, fazendo com que as famílias deixassem de ter o suporte tão essencial dos avós ou dos vizinhos. A par disso, a difícil conciliação entre a vida pessoal e profissional levam os pais a sentirem que não têm tempo de qualidade com os filhos. Chegam a casa cansados, sem paciência e com inúmeras tarefas para realizar, deixando, frequentemente, as crianças entregues às novas tecnologias, o que as está a “aprisionar” dentro de quatro paredes e a fazer com que sejam cada vez menos autónomas e criativas, com falta de competências pessoais e sociais e com uma crescente iliteracia motora.

 

Por que razão as atividades extracurriculares são tão importantes?

É urgente incentivá-los à realização de atividades extracurriculares. Só assim asseguraremos o seu bem-estar físico e psicológico, garantiremos que os grandes talentos se revelem nas diferentes áreas e que escolham uma profissão que vá ao encontro da sua vocação e não apenas a que lhes garanta “maior remuneração” ou status social.

As atividades extracurriculares, para além da sua importância no desenvolvimento das crianças e jovens, são também uma resposta às necessidades dos pais, para que permaneçam mais tempo nas escolas, após o período letivo. As escolas públicas do 1.o ciclo do ensino básico oferecem a todas as crianças um leque de atividades de enriquecimento curricular (as designadas AEC), de carácter facultativo, gratuito e de natureza eminentemente lúdica, formativa e cultural, que incidem nos domínios desportivo, artístico, científico e tecnológico, de ligação da escola com o meio, de solidariedade e voluntariado e da dimensão europeia da educação. As AEC configuram, antes de mais, um importante instrumento de política educativa, orientado para a promoção da igualdade de oportunidades, a redução das assimetrias sociais e o sucesso escolar.

Paralelamente, a taxa de natalidade tem diminuído substancialmente, sendo as famílias de hoje mais reduzidas, o que conduz a uma superproteção e “endeusamento” dos filhos. A maioria dos pais exerce pressão para que os filhos tirem um curso superior e tenham sucesso académico. Já não basta serem bons, têm que “ser os melhores”, sob pena, dizem eles, de chegarem ao final do 12.o ano e serem “barrados” por um numerus clausus que os impede de seguir a sua vocação ou, muitas vezes, a ambição dos seus pais. Por este motivo, pelas pressões exercidas direta ou indiretamente pela sociedade e pela importância dada aos rankings das escolas, a ansiedade de desempenho é cada vez mais notória em idades mais precoces. Com a pandemia, acentuaram-se os sintomas de ansiedade e depressão nas crianças e jovens, sendo urgente incentivá-los à realização de atividades extracurriculares. Só assim asseguraremos o seu bem-estar físico e psicológico, garantiremos que os grandes talentos se revelem nas diferentes áreas e que escolham uma profissão que vá ao encontro da sua vocação e não apenas a que lhes garanta “maior remuneração” ou status social.

 

jovens em atividades de grupo

As atividades em grupo são importantes para trabalhar a autoestima e reduzir os sintomas de ansiedade.

 

As atividades extracurriculares podem ser realizadas dentro e/ou fora do contexto escolar e visam complementar a formação dos estudantes. É essencial estimular as crianças e os jovens a participarem nestas atividades, em que brincar e jogar, especialmente ao ar livre, se torna obrigatório para o seu desenvolvimento cerebral, contribuindo de forma determinante para o bem-estar físico, emocional, cognitivo e social. Brincar permite que explorem o mundo que as rodeia, experimentando diferentes papéis, desenvolvendo a criatividade, a autoconfiança e a resiliência necessárias para lidarem com as adversidades e mudanças que farão parte das distintas fases do seu ciclo de vida.

 

Como escolher as atividades extracurriculares?

Para que as crianças e os jovens descubram as suas diferentes aptidões e opções vocacionais, é essencial experimentarem diversas atividades.

Para que as crianças e os jovens descubram as suas diferentes aptidões e opções vocacionais, é essencial experimentarem diversas atividades. De acordo com a Teoria das Inteligências Múltiplas, que é um modelo de conceção da mente criado pelo psicólogo norte-americano Howard Gardner (1983), a inteligência constitui-se como um conjunto de habilidades, de talentos ou de capacidades totalmente independentes entre si, ao que chamou “inteligências”, e nenhuma é mais importante do que a outra. Este investigador preconizou a existência de oito inteligências: inteligência linguística, inteligência lógico-matemática, inteligência espacial, inteligência musical, inteligência corporal-cinestésica, inteligência intrapessoal, inteligência interpessoal e inteligência naturalista.

> A inteligência linguística refere-se à capacidade de o ser humano controlar a linguagem e comunicar de forma transversal a todas as culturas, quer através da comunicação oral quer da escrita, gestual, etc. As atividades extracurriculares nas áreas linguísticas são extraordinárias para desenvolver esta competência, nomeadamente a expressão dramática.

A inteligência lógico-matemática, antigamente, era considerada a inteligência em bruto, pois utilizava-se como escala para medir o grau de inteligência das pessoas. Relaciona-se com o raciocínio lógico e a capacidade de resolução de problemas matemáticos. Os jogos que implicam estratégia (por exemplo, o xadrez, as damas ou outros jogos de raciocínio) são essenciais ao desenvolvimento desta inteligência.

A inteligência espacial ou visuoespacial determina a capacidade de observar o mundo e os objetos a partir de diferentes perspetivas. As atividades de artes plásticas ou que impliquem a criação de mapas mentais são excelentes para estimular esta competência (por exemplo, pintura, escultura, desenho, escutismo).

Gardner afirma que existe uma inteligência musical latente em todas as pessoas, devido à cultura musical existente em todas as comunidades. As atividades que estimulem a área musical, nomeadamente aprender a tocar algum instrumento musical ou canto, são ótimas para desenvolver esta área.

A inteligência corporal-cinestésica é essencial no desenvolvimento de todas as culturas, pois as habilidades corporais e motoras são imprescindíveis para administrar ferramentas ou expressar emoções. Todas os desportos, assim como a expressão dramática, o yoga, as meditações, entre outros, promovem o desenvolvimento desta inteligência.

A inteligência intrapessoal ou emocional está associada às nossas competências pessoais, ajudando na regulação das emoções e a manter o foco de atenção. A meditação é perfeita para desenvolver esta competência.

A inteligência interpessoal associa-se às competências sociais e à capacidade de socialização. Ajuda a identificar aspetos das outras pessoas para além do que os sentidos conseguem captar. Permite interpretar as palavras, os gestos ou os objetivos de cada discurso. Todos os desportos coletivos ou outras atividades em grupo são essenciais para o desenvolvimento desta inteligência.

A inteligência naturalista está associada aos sentimentos em relação às pessoas, às espécies animais e vegetais ou a fenómenos relacionados com o clima, a geografia ou outros associados à Natureza. As atividades de ciências ou escutismo são ótimas para o desenvolvimento desta inteligência.

Em síntese, nenhuma das oito inteligências é mais importante do que a outra e todas devem ser estimuladas, nomeadamente através da frequência de diferentes atividades extracurriculares. Deste modo, estaremos a garantir que os seres humanos se tornem mais capacitados para encarar a vida e para saberem enfrentar as suas vicissitudes, independentemente da profissão ou interesses.

 

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Psicóloga Clínica










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Licenciada em Psicologia pela FPCE-UC e mestre em Aconselhamento Genético pelo ICBAS-UP, Bruna Leandro é especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia Comunitária, pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. Desenvolveu o seu percurso profissional em áreas distintas, desde o aconselhamento parental, a intervenção com famílias em situação de vulnerabilidade social, crianças e jovens em risco, toxicodependência e VIH/SIDA, doenças genéticas e obesidade. Há 15 anos que exerce funções como psicóloga clínica na Clínica Médica de Seixezelo, em Vila Nova de Gaia, e na Ulficlínica – serviços médicos, Lda, em S. M. da Feira), onde realiza avaliações e acompanhamento psicológico a crianças, jovens e adultos, assim como orientação vocacional. É membro-fundador e presidente da Assembleia Geral da Associação Portuguesa dos Profissionais de Aconselhamento Genético (APPAcGen).