A importância da família na construção da identidade

As crianças adaptam-se, naturalmente, aos pais que têm. Esta relação pode ser maravilhosa quando os pais são indivíduos saudáveis, mas pode ser assustadora e desorganizadora se os pais forem psicopatologicamente pouco saudáveis. Deste modo, a família é um bom preditor do desenvolvimento das crianças, moldando e influenciando diretamente a sua identidade.

A família é um bom preditor do desenvolvimento das crianças. Assim, em famílias disfuncionais, isto é, com elementos psicopatologicamente doentes, dificilmente crescerão crianças saudáveis. Em virtude desta relação, a família, no geral, e os pais, em particular, moldam a criança e influenciam diretamente a sua identidade.

Naturalmente, ninguém adoece de um ponto de vista psicopatológico com carinho e ternura. Não obstante, é natural que todos os pais tenham atitudes que não deviam e, quando as identificam, geralmente, culpam-se por elas. Contudo, os pais devem estar conscientes de que ninguém nasce preparado para ser pai ou mãe e que este papel é uma aprendizagem contínua e conjunta com os filhos. Garantidamente, nenhuma criança adoece ou fica traumatizada por pontualmente os pais terem atitudes menos corretas.

 

Gravidez

Durante a gestação, o feto é capaz de perceber e captar os estados da progenitora. Se a mãe estiver tendencialmente deprimida durante a gravidez, é muito provável que o bebé também nasça deprimido.

Deveria anteceder a decisão de conceber um filho uma boa dose de autorreflexão, no sentido de o casal concluir se o companheiro que tem ao seu lado é o amor da sua vida. Ter um filho com o amor da nossa vida não significa que tudo será um mar de facilidades, mas implica ter uma pessoa ao nosso lado que nos apoia de modo incondicional, facilitando as adversidades que se avizinham.

A gravidez é um tema em que parece existir, socialmente, alguma amnésia relativamente aos aspetos menos agradáveis desta fase. As mudanças que advêm da gravidez podem causar instabilidade e uma certa desorganização que, eventualmente, se poderá atenuar mais facilmente com o apoio, reconforto e auxílio do amor da nossa vida.

Durante a gestação, o feto é capaz de perceber e captar os estados da progenitora. Exemplificando, se a mãe estiver tendencialmente deprimida durante a gravidez, é muito provável que o bebé também nasça deprimido, manifestando, por exemplo, sono em excesso, impedindo-o de se alimentar de forma atempada e recorrente, como o recomendável. Ainda antes de nascer, existem aspetos com impacto direto nos comportamentos e na manifestação sintomática do futuro bebé.

Sugestões de leitura:

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Bebé

Gradualmente, os pais devem aliviar (razoavelmente) o foco no filho.

Quando o bebé nasce, uma desorganização natural invade a vida do casal, que passa a ter novas rotinas, consultas recorrentes, montanhas de roupa para lavar, horas de sono por dormir, entre outras novidades. O cansaço fica esbatido nos olhos dos novos pais, que, ainda assim, vestem o melhor sorriso, tentando mascarar as olheiras para o apaixonante bebé.

No que concerne aos bebés, e dando continuação ao que acontece na gravidez, eles são seres extremamente atentos e sensíveis ao estado dos seus pais. Quando os bebés compreendem que a mãe não está tão calma e tranquila como o habitual, eles tendem a adormecer mais tardiamente, o que, na linguagem de bebé, significa “mãe, eu percebo que tu não estás bem e, por isso, fico alerta”. Apesar desta complexidade e sofisticação, os bebés são seres necessariamente dependentes dos pais, sendo estes adultos quem detém o poder de traduzir o mundo ao filho. Num primeiro momento, os bebés são reis e senhores da casa, ou seja, os pais reagem a todas as necessidades. Todavia, e gradualmente, os pais devem aliviar (razoavelmente) o foco no filho. É nisto que consiste o desenvolvimento: uma profunda adaptação em que os pequenos detalhes contam e têm peso na criança e no adulto que o bebé será.

Sugestões de leitura:

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Criança

As crianças saudáveis não são as mais caladas, certinhas e que obedecem sempre aos pais.

As crianças adaptam-se, naturalmente, aos pais que têm. Esta relação pode ser maravilhosa quando os pais são indivíduos saudáveis, mas pode ser assustadora e desorganizadora se os pais forem psicopatologicamente pouco saudáveis. Na realidade, o sistema psíquico da criança é frágil e necessita do auxílio dos seus pais como forma de se orientar no mundo.

Considerando a família o meio onde a criança cresce, é importante que esta seja responsável, segura e que proporcione um ambiente de suporte e comunicação. Este background dá segurança à criança, fazendo-a compreender que existem à sua volta pessoas capazes de conter as suas emoções e frustrações. Será, portanto, desnecessário explicar que a tristeza, por exemplo, é uma emoção plausível e que não deve ser erradicada. Em vez disso, um abraço será reconfortante para a criança. A capacidade de os pais proporcionarem um ambiente contentor de frustrações e de emoções variadas está para as crianças como a água está para as flores.

As crianças saudáveis não são as mais caladas, certinhas e que obedecem sempre aos pais. Geralmente, estes comportamentos, quando ocorrem, significam que as crianças têm muito medo de contrariar os pais (talvez os vejam como pessoas um pouco assustadoras). As crianças saudáveis refilam, chamam a atenção para o que querem e são teimosas. Os pais devem ser como um farol que orienta e decide, de forma coerente, aquilo que pode ou não ser realizado, com bom senso, claro (!), e sem nunca esquecer que as regras, rotinas e ritmos preexistentes (desde os primeiros anos da criança, de preferência) são pontos fixos que não devem ser mudados.

Apesar de toda esta elucidação que vai desde a gravidez até ao desenvolvimento da criança , devo salientar que não é apenas a família que tem um papel importante na construção da identidade infantil. Todos os adultos importantes, isto é, aqueles que desempenham um papel na vida das crianças, como os professores, os treinadores, as catequistas, e muitos outros, são potenciais identificações para as crianças e contribuem para pequenos pedacinhos da sua identidade.

Aprender é importante; tirar boas notas é apenas um complemento. Jogar futebol é diversão; jogar bem é apenas um acréscimo.

Por vezes, a família, e até mesmo os pais, tendem a programar objetivos para as crianças que, na realidade, são deles próprios e acabam por induzir os mais novos em competições desnecessárias. Aprender é importante; tirar boas notas é apenas um complemento. Jogar futebol é diversão; jogar bem é apenas um acréscimo. Existe sempre a tentação errónea de julgar e comparar. Acima de tudo, as crianças devem brincar. Brincar é o alimento do corpo das crianças, a vitamina que as faz crescer saudavelmente.

Sugestões de leitura:

Educar com MindfulnessCaderno da Família FelizComo educar filhos para não serem idiotasO meu filho fez o quê???

 

Numa breve nota final, gostaria de sugerir o seguinte raciocínio: imaginemos um feto como uma folha em branco. Ao longo do seu desenvolvimento, desde a gravidez até à infância, os pais e os adultos importantes vão marcando essa folha branca com determinadas cores e formas. O desenho que se vai construindo é a identidade da criança, que apenas se conclui, razoavelmente, no final da adolescência. Quer isto dizer que, na vida das crianças, a família tem um papel de importância inegável, e a ela cabe-lhe fazer o melhor desenho possível. Ninguém adoece psicopatologicamente por um risco mal feito de vez em quando, mas sim por um desenho distorcido!

 

A autora

Marta Ramalho da Costa – Psicóloga

E-mail:  [email protected]

Linkedin:  linkedin.com/in/marta-ramalho-da-costa-1567ab204

 

 

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