O seu filho gosta da escola?
Será que os nossos filhos se estão a dar bem na escola? Como poderemos avaliar? Que parâmetros? A escola será boa? E se eles andam infelizes e não damos conta?
Mário CordeiroPara lá do que se pode dizer sobre a escolha da instituição, desde o ambiente afetivo, a segurança, a comida, as regras, o programa de atividades, o projeto educativo, o ambiente da sala e do recreio, há um aspeto essencial: se as nossas crianças se sentem bem na escola.
Não me refiro ao dizerem «não quero ir para a escola!». Essa expressão é mesmo isso: «não querem ir», mas gostam de lá estar, o que é diferente, porque a primeira é equivalente a dizer «não quero sofrer esta agonia, esta dúvida, de estar com os pais, mas já “com um pé” na escola ou de estar na escola, mas ainda com os pais lá dentro». É estar, mesmo. É não ter pressa em sair quando os pais chegam e depois de dado o beijinho da saudade. É falar da escola, arrastar os pais para a sala de aula, é falar do que aconteceu.
Assim, a qualquer momento do ano letivo, valerá a pena os pais refletirem sobre algumas questões.
«Muita coisa pode mudar para melhor se os pais colaborarem ativamente na escola.»
Os vossos filhos estão a gostar da escola?
A pergunta é simples, mas essencial, e esperemos que a resposta seja «sim». O sinal mais importante de que se estão a adaptar bem é, repito, quererem ir logo de manhã e não estarem aflitos na altura em que os vão buscar (embora seja bom que gostem de ver os pais ao fim do dia). Deixem-nos gostar da escola. É um primeiro passo para gostarem de aprender.
Os vossos filhos já fizeram novos amigos?
Embora não seja obrigatório ter uma quantidade muito grande de amigos («poucos, mas bons!»), é conveniente que tenham alguns para não se sentirem isolados. Será que eles falam desses amigos? Tratam-nos pelo primeiro nome? Contam histórias passadas com eles? Foram já convidados para alguma festa de anos? Sem entrar em «interrogatórios de polícia», tentem saber o que se passa para melhor compreenderem a integração escolar e a personalidade do vosso filho.
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A segurança da escola é suficiente?
Já pensaram nisso? Já visitaram a sala de aula, o recreio, as instalações sanitárias? Já deram uma vista de olhos crítica às entradas e saídas? Avaliaram o risco de acidentes? Se não o fizeram, façam-no e transmitam as vossas dúvidas e inquietações aos professores, ao delegado de turma ou ao Conselho Executivo. Muita coisa pode mudar para melhor se os pais colaborarem ativamente na escola.
Como vão as atividades desportivas?
O exercício físico e o desporto devem fazer parte do dia a dia da criança. Para lá da atividade constante que têm na sala e no recreio, é bom que as escolas proporcionem atividades de tipo mais organizado, sejam aulas de ginástica, seja de dança, saltos, judo… Infelizmente, muitas escolas apresentam, ainda, muitas lacunas no que respeita a este tipo de atividade, seja nas instalações, seja na programação, pensando que basta correrem o dia todo. Falem com os professores acerca disso, designadamente com os professores de Educação Física.
Já houve passeios e visitas de estudo?
Se não houve, é melhor começar a perguntar se vai haver e quando. As competências sociais que devem ser ensinadas na escola — muito mais do que a simples aprendizagem da escrita, da leitura e da aritmética — têm de incluir saídas para o mundo real: jornais, museus, fábricas, clubes... ou tão-somente conhecer melhor a terra onde se vive. Sugiram locais, dentro dos vossos conhecimentos e profissões. Deem uma ajuda aos professores, abrindo portas e deitando abaixo barreiras. Os alunos agradecem e a sociedade também.
Sabem o nome dos educadores que intervêm no quotidiano dos vossos filhos?
Esperemos que sim, pois será sinal de que eles falam neles. Conheçam-nos. Perguntem-lhes regularmente como é que o vosso «rebento» se está a dar na escola e se podem contribuir para melhorar alguma coisa. O diálogo entre pais e educadores é essencial para todos, pois a escola não é (não pode ser) um mero «depósito de meninos», mas um local de descoberta de talentos e de exercitação de competências, bem como de ensino e de aprendizagem, prazer, desenvolvimento afetivo e lúdico, físico e intelectual, psicológico e emocional.
Idem para o nome dos auxiliares
Os vossos filhos sabem o nome deles? E os «pais dos vossos filhos»? É bom que conheçam bem as várias pessoas que convivem e trabalham na escola, para além do educador principal. É sinal de que as crianças vivem a escola plenamente.
E as atividades artísticas?
A escola providencia e estimula a criatividade e este tipo de atividade? Escultura, pintura, leitura, música, teatro? Estejam atentos a estes aspetos, pois o desenvolvimento do espírito artístico e de hobbies é um dos fatores protetores mais importantes, e a criatividade e a sensibilidade são facetas que têm de ser desenvolvidas e estimuladas desde sempre.
O vosso filho demonstra prazer em aprender?
Fala com entusiasmo das matérias que lhe são ensinadas e, também, do gozo que tem em aprender? Quer mostrar os seus conhecimentos e a sua sabedoria? Embora nem todas as crianças tenham o mesmo ponto de partida e o mesmo ritmo de aprendizagem, convém estar atento (sem ansiedade ou exigências exageradas) a eventuais dificuldades, muitas delas ultrapassáveis em casa com o apoio dos pais, sendo, porém, necessário averiguar a existência de alguma causa orgânica ou psicológica para o insucesso educativo e o desinvestimento na aprendizagem — em caso de dúvida, depois de analisarem o assunto com os educadores, consultem o médico assistente do vosso filho.
Pais, querem saber se os vossos filhos se sentem bem? Façam esta reflexão e conversem com eles e com os educadores/professores. A vida é, para a maioria das pessoas, «um molho de brócolos», mas há que dar prioridade a certas coisas e gerir o tempo de forma a não perder o essencial no meio do que é acessório — e a escolarização dos vossos filhos é um fenómeno a acompanhar com gosto e atenção.
Se, pelo contrário, eles andam constantemente de «cara amarrada», tristes, mostram desinteresse, fazem birras para ir para a escola, se nem olham para a sala quando vocês chegam e só querem é enfiar-se no carro e fugir, ou se relatam, especificamente, algum evento traumático, doloroso, violento, então não fiquem a duvidar do vosso filho, mas tentem saber se, realmente, ele tem razões para se sentir tão de costas voltadas para o local que, por definição, o deveria acolher e proteger.
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