Como escolher um jardim de infância? 9 fatores a ter em conta.

Neste artigo, o autor reflete sobre a melhor idade para iniciar o infantário — hoje, muitas vezes aos dois anos — e destaca os principais critérios a considerar na escolha: ambiente afetivo, qualidade das instalações, refeições, projeto educativo, segurança e autonomia. Uma leitura útil para pais que procuram fazer uma escolha informada e equilibrada para os primeiros anos de escola dos filhos.

Durante muitos anos, dizia-se que a idade ideal para ir para o infantário (termo que uso aqui como sinónimo de creches e de jardins de infância) seriam os três anos, e que, antes dessa idade, dever-se-ia ficar com a mãe ou familiares próximos. Contudo, os tempos e as circunstâncias mudaram...

Os tempos e as circunstâncias mudaram e se, por um lado, é verdade que os infantários e jardins de infância são locais onde há um risco aumentado de infeções, por outro, são lugares de socialização e de aprendizagem cognitiva e de dinâmicas de grupo (e de companhia pelos pares) que as casas das crianças atualmente não têm, pelo menos as que vivem em meio urbano, sem a «carrada» de irmãos e primos, ou vizinhos, num ambiente de aldeia em que havia ampla liberdade de explorar a terra, as brincadeiras, a vida nas fazendas e o meio ambiente em geral.

As crianças que ficam em casa ficam geralmente sós em termos de grupo etário, salvo uma ou outra ida ao supermercado ou uns minutos de parque infantil, de vez em quando. Assim, dois anos, dois e meio, será, nos tempos atuais, a idade adequada para ir para um infantário, caso até aí a criança não tenha já entrado na escola pela ausência de alternativas.

 

Escolha de um infantário ou jardim de infância

A escolha é por vezes difícil, dado que há muitos fatores que contam: proximidade, preço, localização na rota diária dos pais, informações e referência de pessoas conhecidas, condições das instalações, simpatia dos colaboradores, segurança. Muitas vezes, só o dia a dia permitirá dizer da sua eficácia e sucesso. É necessário que os pais exerçam algum controlo, sem pretenderem ser «agentes da judiciária», mas não fazendo cerimónias e dizendo o que acham não estar correto.

Mesmo que corresponda a uma má avaliação da situação, é preferível que as dúvidas sejam de imediato veiculadas às educadoras da sala e, se necessário, aos diretores do infantário.

 

Há vários fatores a ter em conta na escolha de um infantário ou jardim de infância:

1. Afetividade espontânea  patente na maneira como as outras crianças são tratadas ou como os profissionais se dirigem à vossa criança, aquando da primeira visita. Não se trata de fazer demasiados «cuchis-cuchis», mas de ver o carinho e o afeto que os adultos mostram perante as birras, os pedidos, os pequenos acidentes e as manifestações afetivas das próprias crianças.

 

2. Espaço  se é bom em termos de área, conceção, decoração, se é apropriado ou não para a população infantil, se tem luz, sol, se é arejado, se é carinhoso e se, por exemplo, há um contraste entre as áreas de brincar (de cores mais garridas e convidando à atividade) e as de descanso (mais suaves, apelando a uma contenção da atividade física).

O espaço é determinante para o desenvolvimento da criança, que lá passará, em média, oito horas por dia. O ideal é começar com as paredes quase vazias e ver, dia após dia, desenhos, construções, trabalhos, elementos construídos pelas crianças, renovando-se conforme as temáticas que estão a ser exploradas e permitindo que elas se reconheçam no «seu» espaço, com o orgulho e a ligação afetiva que qualquer um de nós tem pela sua «obra».

 

3. Atividades  é evidente que uma organização, qualquer que ela seja, tem de ter um mínimo de regras e de horários definidos, sobretudo quando os utentes são muitos. Todavia, para lá de certos momentos de «síntese», deve ser dada liberdade criativa e de opção às crianças, sem as obrigar a «ouvir uma historinha» quando estão entretidas e divertidas a brincar, por exemplo, na casinha ou com um qualquer jogo.

O educador tem de ser um gestor do coletivo, mas também dos gostos, apetências, talentos e competências individuais, além de entender quais as crianças que, nesse dia, por vezes sem razão evidente, se sentem mais fragilizadas e precisam de mais atenção ou mimo.

 

4. Hora de dormir  a opção «sesta» deveria ser obrigatória até aos 5/6 anos. Opção, claro, mas que tenho em mim que seria a da maioria das crianças e dos pais. Não é por se fazer 3 anos que se deixa de necessitar de um intervalo no meio de um «jogo» que dura oito horas (ou mais, porque começou quando a criança acordou, em casa) e no qual se gastam muitas energias físicas e intelectuais, e se aprende muito. Dormir é descansar, mas é, principalmente, fazer uma arrumação da informação recebida, transformando-a em conhecimento e sabedoria.

 

5. Refeições  este item inclui a técnica e composição, em termos de alimentação e nutrição (ou seja, o menu), mas também a maneira como a comida é dada, o desenvolvimento da autonomia de cada criança, a atenção e respeito para com as dificuldades de cada um e, também, como se reage às birras à mesa e às tentativas que a criança faz para se aproveitar do espaço alimentar para fragilizar o adulto e tentar «mandar».

Não é preciso comer tudo, nem se deve, sobretudo, acelerar a refeição, estilo «o último a acabar é um…». Ensinar a comer bem, manipulando corretamente os talheres, mastigando pausadamente, fazer intervalos, conversar, ter bons modos à mesa, ser cortês… tudo isto pode e deve ser ensinado e é tão importante como o que é servido no prato.

 

6. Competência do pessoal e número  não se fazem omeletes sem ovos, pelo que, se o pessoal é «curto», a supervisão, acompanhamento e dedicação vai ser menor… Por outro lado, as competências dos profissionais não se ficam apenas pelos títulos académicos mas, sobretudo, pela sabedoria, experiência e capacidade de resolução de conflitos, de dar mimo, de estar presente e saber o que fazer em cada situação.

 

7. Festas, visitas de estudo, rituais de pertença  são indispensáveis porque unem as crianças e permitem a ida dos encarregados de educação que querem contar uma história ou dinamizar um projeto. A espontaneidade tem de fazer parte do cardápio de qualquer infantário.

Por outro lado, sair, conhecer algumas coisas do mundo que rodeia, descobrir novos horizontes é também uma das funções da escola e do processo de ensino/aprendizagem.

 

8. Segurança  fundamental! Não há hipótese de prevenir todos os riscos sem prejudicar a liberdade e a criatividade, mas há mínimos de segurança, incluídos já na legislação sobre espaços de jogos e de recreios, e normas de segurança escolar que são indispensáveis e cujo cumprimento os pais devem exigir.

Neste capítulo, incluem-se as regras e atitudes a ter em caso de emergência ou de acidente, e é bom que esteja tudo bem claro antes de começar a relação entre os pais e a instituição.

 

9. Projeto educativo e de desenvolvimento pessoal e coletivo  fica para último o que, eventualmente, é o principal. Uma coisa é um infantário que serve como «depósito de meninos», que até os protege e mima, mas limita-se a gerir o dia a dia. Outra é uma escola que, para lá disso, pretende desenvolver um projeto educativo, descobrir talentos, entender temperamentos, servir de airbag às partes menos boas da personalidade e pensar na criança, não apenas como presente — o que é essencial, repito —, mas também como ser em desenvolvimento, como futuro jovem e adulto que, no mundo menos protegido que vai enfrentar, terá de fazer mão de todos os trunfos e de toda a sua sabedoria. Essa sabedoria pode ter um ponto alto no infantário.

E, depois, a escolha é vossa!

 

Sugestões de leitura

Se está a preparar os primeiros anos do seu filho no infantário ou simplesmente a atravessar as fases desafiantes do desenvolvimento infantil, estes livros podem ser uma ajuda valiosa. Da alimentação ao sono, passando pelas dúvidas mais comuns da parentalidade, estas leituras oferecem conselhos práticos e esclarecedores para mães, pais e cuidadores.

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