A entrada no 1.º ciclo: o entusiasmo do ano que finalmente chegou

Sempre tive a escola como um lugar onde podemos ser e aprender a ser muito felizes. Mesmo nos momentos em que o somos menos. Talvez por isso não esteja ansiosa em relação à entrada da minha filha mais velha na 1.ª classe (ou antes no 1.º ciclo, como agora se diz!). Encaro esta fase como mais uma da vida dela.

No outro dia, em conversa com um casal amigo, ela usava a palavra entusiasmada (em vez de ansiosa) e isso confirmou a minha tranquilidade. Entusiasmo é felicidade! Entusiasmo é contagioso e é um sentimento do bem!

E, por isso, o meu foco é, claramente, outro. É envolver-me neste ano que começa, dando o mote. Como? Então este ano decidimos começar setembro, elegendo a palavra do ano. Qual é ela? A responsabilidade. E como a vamos trabalhar? De várias formas.

Vamos continuar a manter a nossa tabela das tarefas, onde a nossa filha sabe exatamente o que tem de fazer quando se levanta de manhã, e vamos criar uma para o final do dia — aí, e possivelmente até meados de setembro, vamos manter uma boa dose de flexibilidade, uma vez que temos de conhecer os horários da escola e das atividades e perceber como tudo isso se encaixa na nossa dinâmica.

É evidente que, para que tudo isto dê certo, contamos com o seu envolvimento e cooperação na elaboração deste quadro. Afinal de contas, é ela que vai fazer acontecer o que lá estiver marcado. Uma tabela de tarefas é apenas isso: uma to do list, sem recompensas, sóis ou nuvens — um dia conto o que eu acho destas tabelas e porque as vejo como desinteressantes e até perigosas.

E com a entrada no 1.º ciclo vamos dar-lhe um privilégio que é, também, uma forma de ensinarmos uma série de competências. Vai passar a receber uma mesada. Eu, que sempre tive mixed feelings em relação a uma mesada numa idade tão jovem, percebo agora que não há motivos para receios, muito pelo contrário. A mesada é uma excelente forma de trabalhar a palavra do ano.

Primeiro, porque dará à nossa filha a possibilidade de gerir o seu dinheiro e canalizá-lo para as compras que deseja. Naturalmente que, de início, vai gastá-lo no gelado extra que vai querer comprar, ou numa carteirinha de cromos da coleção que está a fazer mas, com o passar das semanas, terá vontade de guardar aquele dinheiro para algo maior. E é nessa altura que estará a gerir o impulso de comprar logo algo que lhe apetece muito naquele instante, por algo maior. Com a mesada, aprenderá também que as coisas levam o seu tempo a conquistar e que podemos estar meses a fio a juntar dinheiro para algo que desejamos muito (e aqui o dinheiro é mesmo o que menos conta!).

Gosto tanto da ideia de a ensinar a projetar-se no futuro, a viver a situação que deseja, e gosto ainda mais da ideia com que ela vai ficar de ela própria: de alguém que sabe esperar, porque a felicidade, como sabemos, não está só na chegada mas também no trajeto.

Lembro-me quando fiz a minha certificação em Educação e Parentalidade Positiva e de a formadora ter partilhado a história de uns pais que não queriam nada dar certa bicicleta ao filho. Não achavam piada àquela modalidade específica mas deixaram que poupasse para isso. Afinal de contas, era algo que o filho desejava muito e sabiam o quanto era importante para ele. Então, ao fim de um ano e alguns meses, foram todos, no carro do pai, comprar a tal bicicleta com o dinheiro que ele tinha poupado. E a mãe relatou que nunca o tinha visto tão orgulhoso de si e dedicado. Dizia ela que todos os fins de semana o filho limpava e puxava o brilho à bicicleta, estimava-a e tratava dela com muita atenção.

Desenhar um objetivo, estabelecer as metas, controlar o impulso, decidir se vou deitar tudo a perder (comprando uma outra coisa que depois pode ter menos interesse do que aquela bicicleta), saber escolher… enfim, são competências que se treinam todos os dias.

Tenho a noção de que a nossa missão enquanto pais é, justamente, ajudá-los a tornarem-se pessoas bem formadas, jovens autónomos e independentes. Não é controlando e fazendo micro-gestão da vida deles que lá chegamos, mas sim nestes momentos, que afinal são os mais solenes.

Afinal de contas, e olhando bem para dentro de mim, também eu estou muito entusiasmada com este novo ano que aí vem!