A adaptação ao jardim de infância: o seu filho ficou a chorar?

Sim, é possível que o seu filho tenha ficado a chorar, e isso é muito natural. Primeiro, coloquemo-nos na pele da criança para entendermos melhor os seus sentimentos: quem é este grupo de estranhos? Quem são estes meninos da minha idade? Quem são estes adultos que não são o pai, a mãe ou os avós?

As perguntas continuam: quem é esta pessoa que me pega ao colo? Que casa é esta que não conheço? Que cama é esta que não é a minha? Que tempo é este que nunca mais acaba? Bowlby chama-lhe strange situation (situação estranha): a capacidade de adaptação da criança é posta à prova. Quanto maior for a vinculação (ligação) à mãe e/ou ao pai, melhor a criança enfrenta esta situação.

Não esqueçamos que a criança não percebe se os pais a vão buscar ao fim do dia, que não a abandonaram, que virão mais cedo ou mais tarde. Assim, a criança sente-se insegura, eventualmente abandonada, e, por isso, chora.

Se a criança não frequentou a creche, a entrada no jardim de infância é uma transição crucial: do universo restrito e protegido da família, a criança transita para uma instituição que acolhe muitas outras crianças em pé de igualdade, deixando de ser o centro. Mesmo que transite de creche, raramente ela está situada no mesmo estabelecimento, de modo que a transição será sempre delicada, mas eventualmente menos demorada. Sobretudo porque a creche também é um ambiente protegido, com muito menos crianças por educador, maior vigilância e atendimento personalizado.

 

O que pode fazer para ajudar nesta situação sem dramas nem ansiedades desnecessárias?

Nesta ligação entre a casa e a creche ou o jardim de infância, é importante que os pais expliquem à criança, na medida da sua capacidade de entendimento: “logo o pai vem”; “vais comer a comida da escola”; “vais brincar com os outros meninos”; “vais dormir”. É importante que os educadores autorizem a criança a levar de casa um objeto de transição: este objeto representa, segundo a teoria da vinculação (Bowlby), um prolongamento da relação familiar, nomeadamente a relação de segurança com a mãe. Pode ser um boneco de peluche, um livro, um carrinho ou a coberta de estimação. Na organização do jardim de infância, é de prever que, em cada dia da semana, entre um grupo restrito de crianças: os adultos poderão estar mais disponíveis para as apoiar. Se os grupos forem heterogéneos, os mais velhos podem apoiar os mais novos.

É frequente as crianças de três anos precisarem ainda de levar para o jardim de infância a chupeta ou a fralda. Os educadores devem progressivamente ajudar a criança a libertar-se delas – usar só à hora de dormir, por exemplo – e tornar festivo o momento em que a criança já não precisa destes objetos.

Os pais devem entregar a criança de forma progressiva: no primeiro dia, devem manter-se ao lado da criança, de modo que ela conheça o ambiente a partir do “porto seguro” que são os pais: alimentá-la, pô-la a dormir, vesti-la ou mudar-lhe as fraldas, etc.; depois, os pais ausentam-se apenas por uma hora ou duas; progressivamente, deixam a criança sozinha uma manhã e, depois, o dia todo. É natural que, no início da semana, chore, mas, nos dias seguintes, já estará adaptada.

Se, após uma semana ou duas, a criança não se tiver adaptado, será talvez importante consultar o pediatra ou pedopsiquiatra, mas, antes, deve conversar com o educador: talvez a criança chore à hora de chegada ou à partida e, depois, vá serenando ao longo do dia. A brincadeira conjunta com outros meninos pode ser estimulante!

Não esquecer que a ansiedade dos pais pode transmitir-se aos filhos. Ainda que entendamos essa ansiedade, é importante lidar com ela, conversar sobre ela com o educador, eventualmente, telefonar a meio do dia para saber se a criança está bem e, depois, confiar na instituição e nos seus profissionais.

Passada esta fase, os pais devem interessar-se pelas atividades que a criança desenvolve na escola: pedir que conte o que fez, cantar com ela a canção que aprendeu na creche ou no jardim de infância, apreciar o desenho ou a modelagem, afixar na porta do frigorífico esses trabalhos ou ler à noite um livro que a criança tenha lido durante o dia na instituição.

Insistimos que todo este processo deve ser feito com serenidade e confiança, na certeza de que mais tarde ou mais cedo a criança fará a sua adaptação, aprenderá a conviver com as outras crianças e a apreciar as atividades e as rotinas. E será a primeira, logo de manhã, a querer pôr-se pronta para ir para a creche ou para o jardim de infância!

 

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