Quando a sala de aulas é o hospital

O internamento de uma criança ou jovem é um desafio emocional para pais e filhos. Na Unidade Local de Saúde São João, três professores asseguram a continuidade educativa e o apoio emocional dos internados, garantindo que o tempo no hospital seja o mais positivo e produtivo possível.

O internamento de um filho é uma experiência extremamente desafiadora e emocionalmente desgastante para qualquer mãe ou pai. Esse acontecimento pode desencadear uma panóplia de sentimentos, que variam desde a ansiedade, incerteza, tristeza, preocupação e desespero, passando pelo medo, pela culpa e pela angústia até à esperança e à resiliência. Compreender esses sentimentos é crucial para oferecer suporte adequado e humanizado às famílias durante esse período difícil.

Nesta fase, se a criança/jovem estiver em idade escolar, acresce uma outra preocupação, o facto de o educando estar a faltar à escola e não acompanhar os conteúdos curriculares que a turma está a trabalhar e/ou estar a faltar a momentos de avaliação.

A maioria dos pais que passam pela Unidade Local de Saúde São João desconhece a existência de professores em contexto hospitalar. Na realidade, a educação em contexto hospitalar é uma área crucial que visa garantir o direito à educação para crianças e adolescentes internados. Esse serviço, no caso da Unidade Local de Saúde São João, é composto por três professores do Ministério da Educação, que se encontram em mobilidade no Hospital de São João, não apenas para dar continuidade à aprendizagem das crianças/jovens que por aqui passam, mas também para proporcionar o máximo de normalidade e apoio emocional durante a hospitalização, conscientes de que um ambiente hospitalar mais saudável e acolhedor pode impactar significativamente no bem-estar geral das crianças/jovens e das suas famílias.

Assim, o papel do professor no contexto hospitalar visa:

a) Promover a continuidade educativa: A hospitalização, especialmente em casos prolongados, pode interromper seriamente a educação de uma criança. O apoio educativo hospitalar garante que as crianças/jovens não percam conteúdos curriculares, minimizando o impacto académico negativo da hospitalização.

b) Apoio psicossocial: A educação em hospitais também oferece suporte emocional. A interação com professores e a realização de atividades educativas proporcionam uma sensação de normalidade e distração, aliviando o stress e a ansiedade associados à hospitalização.

c) Individualização do ensino: O apoio educativo em contexto hospitalar é adaptado às necessidades individuais de cada aluno, trabalhando em estreita colaboração com as escolas de origem dos alunos, para garantir que as aprendizagens essenciais sejam personalizadas e adequadas ao estado e à capacidade de cada criança.

d) Inclusão e socialização: A educação em contexto hospitalar promove a inclusão social, proporcionando oportunidades de interação entre crianças/jovens e, quando possível, entre estes e os seus colegas de escola através de videoconferências.

 

6 estratégias para um ambiente hospitalar mais saudável e acolhedor

1. Design e arquitetura humanizados: O ambiente físico do hospital deve ser projetado para ser acolhedor e reconfortante. Espaços coloridos, áreas de recreação e ambientes que lembram menos um hospital podem reduzir o stress e promover uma recuperação mais rápida.

2. Programas de entretenimento e recreação: Atividades recreativas e de entretenimento, como jogos, trabalhos manuais, a hora do conto e música, são, entre outras atividades, fundamentais para a saúde emocional das crianças e jovens internados. Essas atividades ajudam a distrair e a aliviar o tédio, promovendo um ambiente mais positivo.

3. Suporte psicossocial: A presença de psicólogos, assistentes sociais e terapeutas é crucial para oferecer suporte emocional tanto aos pacientes quanto às suas famílias. A terapia de suporte pode ajudar a lidar com o stress, a ansiedade e a depressão decorrentes da hospitalização.

4. Participação da família: Envolver a família nos cuidados e no processo educativo é vital. A presença e o apoio da família podem promover um conforto emocional significativo e contribuir para a sensação de segurança e bem-estar dos menores.

5. Formação de profissionais de saúde: Ações de formação e de atualização regulares para profissionais de saúde sobre a importância do ambiente acolhedor e técnicas de comunicação empática podem melhorar as interações entre a equipa de saúde e as crianças e os seus familiares, promovendo um cuidado mais humanizado.

6. Tecnologia e comunicação: Utilizar tecnologias de comunicação, como tablets e computadores, pode ajudar os pacientes a manterem contacto com amigos e familiares, bem como continuar a sua aprendizagem através de aulas online e recursos digitais.

Em suma, na qualidade de professores a exercer funções em contexto hospitalar, prestamos apoio educativo a crianças e adolescentes internados, indo a nossa prática muito além do ensino tradicional, recorrendo a estratégias personalizadas contando para o efeito, com uma variada gama de material didático. É também nossa missão garantir que todos os alunos e alunas possam realizar as provas de aferição e os exames nacionais, articulando com o Júri Nacional de Exames sempre que é necessário que um aluno realize os exames nacionais de 11.º e 12.º anos em contexto hospitalar.

 

SUGESTÕES DE LEITURA

Durante o internamento hospitalar, a leitura pode ser uma forma poderosa de promover o bem-estar, criar momentos de conexão entre pais e filhos e proporcionar tranquilidade e reflexão, fortalecendo os laços familiares num período tão delicado. 

Para as crianças...

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Para os pais...

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