"Falamos ao jantar"
Televisores, computadores, tablets, smartphones… As novas tecnologias são um recurso “fácil” para entreter os mais novos. Mas será que este uso das novas tecnologias, por vezes excessivo, pode ser nocivo para os mais novos? Quais serão as consequências para as relações interpessoais e para as aprendizagens?
Impacto dos ecrãs nas relações interpessoais e nas aprendizagens
Pode não parecer, mas escrevo estas linhas porque aceitei o desafio de escrever sobre "a aprendizagem em suportes digitais". Acabada de regressar de férias em espaços family friendly, aqueles em que vemos muitas crianças pequenas, espaços amplos para brincar, praia e piscina, famílias descontraídas, liberdade de horários, pouca rigidez nas refeições, ouvi o termo "ipad kids". Foi usado para definir aqueles amorosos seres pequeninos que povoavam inúmeras mesas, em refeições com as famílias, de olhos postos num qualquer ecrã. De referir que, de facto, em espaços amplos, com tantas crianças pequenas, ouvi pouco choro e assisti a poucas birras. Mas fez-me pensar no meu mantra, repetido tantas vezes, quando o tempo aperta e a paciência não sobra – "falamos ao jantar".
Porque à mesa nos lemos nos olhos, transborda o que transportamos no peito todo o dia, nos ouvimos com mais atenção, decoramos melhor as expressões de cada um, nos permitimos abrandar um pouco, e fazê-lo juntos é mais especial.
Mas, e se à frente do prato há um ecrã? E se no assento do carro há um ecrã? E se no recreio da escola há um ecrã? E se na mesa da sala de aula há um ecrã? E se à noite, na cama, há um ecrã?
Quantos sorrisos perdemos de um filho? Quantos olhares enamorados deixaremos de trocar com ele? Será que ele irá decorar as notas do nosso riso? Será capaz de antecipar as nossas expressões nas entrelinhas? Tomará consciência do que apressamos ou deixamos para trás, para estarmos à volta da mesma mesa, em cada fim de dia?
O que construímos na infância dos nossos filhos permitirá aguentar as tempestades da adolescência.
Trabalho na área do desenvolvimento infantil há tempo suficiente para ter a certeza de que há aquisições que não se recuperam. Sou mãe há tempo suficiente para saber que o que construímos na infância dos nossos filhos permitirá aguentar as tempestades da adolescência. Tenho idade suficiente para saber que as melhores coisas se dão gratuitamente, num tempo e num espaço que tem de existir.
Assisto com frequência ao orgulho parental motivado por aprendizagens digitais ocorridas em tenra idade. Parece haver uma clara convicção das famílias de que os ecrãs promovem as aprendizagens. Mas o que vale mais: aprender precocemente geometria ou ter a certeza do amor de uma mãe? O que conta mais: aprender em tenra idade palavras numa língua que não a nossa ou repetir a língua materna como elo de interação?
O que estamos a condenar nas relações?
Que aprendizagens valorizamos? Não será a relação que promove, acima de tudo, as aprendizagens?
O assunto é sério e levou, recentemente, à divulgação de um parecer da UNESCO, baseado em resultados de dados internacionais em grande escala, que sugerem uma relação negativa entre o uso excessivo de dispositivos eletrónicos e o desempenho dos alunos. Deste leque de dispositivos fazem parte telemóveis, tablets e computadores portáteis, que, segundo a UNESCO, não parecem acrescentar valor à educação. Deste parecer resultou a recomendação de proibição de telemóveis nas escolas, numa escala global.
Claro que não podemos falar de riscos dos ecrãs sem atender às diferenças, de acordo com a idade da criança, os conteúdos a que estão expostas, o equilíbrio com outras atividades, a interferência ou não dos ecrãs nas rotinas saudáveis.
Para os pais, é importante reforçar que é fundamental:
– limitar tempos;
– equilibrar tempo de ecrã com exercício físico, interação social, leitura;
– não permitir que os ecrãs invadam o espaço da refeição ou do descanso/sono;
– supervisionar conteúdos e não permitir acesso porque "todos veem" ou "todos jogam";
– suscitar conversas frequentes sobre os conteúdos que a criança prefere;
– mostrar interesse genuíno;
– aprofundar conhecimentos sobre conteúdos de diferentes plataformas;
– manter uma mente aberta.
E, à parte tudo isto, sempre que possível, manter, em toda a sua essência, o mantra "falamos ao jantar"!
SUGESTÕES DE LEITURA
Nestes livros, os autores partilham estratégias e dicas práticas para ajudar os pais a gerirem quais, quanto tempo e em que condições os filhos poderão utilizar as novas tecnologias.
Televisores, computadores, tablets, smartphones… As novas tecnologias são um recurso “fácil” para entreter os mais novos. Mas será que este uso das novas tecnologias, por vezes excessivo, pode ser nocivo para os mais novos? Quais serão as consequências para as relações interpessoais e para as aprendizagens?
Pode não parecer, mas escrevo estas linhas porque aceitei o desafio de escrever sobre "a aprendizagem em suportes digitais". Acabada de regressar de férias em espaços family friendly, aqueles em que vemos muitas crianças pequenas, espaços amplos para brincar, praia e piscina, famílias descontraídas, liberdade de horários, pouca rigidez nas refeições, ouvi o termo "ipad kids". Foi usado para definir aqueles amorosos seres pequeninos que povoavam inúmeras mesas, em refeições com as famílias, de olhos postos num qualquer ecrã. De referir que, de facto, em espaços amplos, com tantas crianças pequenas, ouvi pouco choro e assisti a poucas birras. Mas fez-me pensar no meu mantra, repetido tantas vezes, quando o tempo aperta e a paciência não sobra – "falamos ao jantar".
Porque à mesa nos lemos nos olhos, transborda o que transportamos no peito todo o dia, nos ouvimos com mais atenção, decoramos melhor as expressões de cada um, nos permitimos abrandar um pouco, e fazê-lo juntos é mais especial.
Mas, e se à frente do prato há um ecrã? E se no assento do carro há um ecrã? E se no recreio da escola há um ecrã? E se na mesa da sala de aula há um ecrã? E se à noite, na cama, há um ecrã?
Quantos sorrisos perdemos de um filho? Quantos olhares enamorados deixaremos de trocar com ele? Será que ele irá decorar as notas do nosso riso? Será capaz de antecipar as nossas expressões nas entrelinhas? Tomará consciência do que apressamos ou deixamos para trás, para estarmos à volta da mesma mesa, em cada fim de dia?
O que construímos na infância dos nossos filhos permitirá aguentar as tempestades da adolescência.
Trabalho na área do desenvolvimento infantil há tempo suficiente para ter a certeza de que há aquisições que não se recuperam. Sou mãe há tempo suficiente para saber que o que construímos na infância dos nossos filhos permitirá aguentar as tempestades da adolescência. Tenho idade suficiente para saber que as melhores coisas se dão gratuitamente, num tempo e num espaço que tem de existir.
Assisto com frequência ao orgulho parental motivado por aprendizagens digitais ocorridas em tenra idade. Parece haver uma clara convicção das famílias de que os ecrãs promovem as aprendizagens. Mas o que vale mais: aprender precocemente geometria ou ter a certeza do amor de uma mãe? O que conta mais: aprender em tenra idade palavras numa língua que não a nossa ou repetir a língua materna como elo de interação?
O que estamos a condenar nas relações?
Que aprendizagens valorizamos? Não será a relação que promove, acima de tudo, as aprendizagens?
O assunto é sério e levou, recentemente, à divulgação de um parecer da UNESCO, baseado em resultados de dados internacionais em grande escala, que sugerem uma relação negativa entre o uso excessivo de dispositivos eletrónicos e o desempenho dos alunos. Deste leque de dispositivos fazem parte telemóveis, tablets e computadores portáteis, que, segundo a UNESCO, não parecem acrescentar valor à educação. Deste parecer resultou a recomendação de proibição de telemóveis nas escolas, numa escala global.
Claro que não podemos falar de riscos dos ecrãs sem atender às diferenças, de acordo com a idade da criança, os conteúdos a que estão expostas, o equilíbrio com outras atividades, a interferência ou não dos ecrãs nas rotinas saudáveis.
Para os pais, é importante reforçar que é fundamental:
– limitar tempos;
– equilibrar tempo de ecrã com exercício físico, interação social, leitura;
– não permitir que os ecrãs invadam o espaço da refeição ou do descanso/sono;
– supervisionar conteúdos e não permitir acesso porque "todos veem" ou "todos jogam";
– suscitar conversas frequentes sobre os conteúdos que a criança prefere;
– mostrar interesse genuíno;
– aprofundar conhecimentos sobre conteúdos de diferentes plataformas;
– manter uma mente aberta.
E, à parte tudo isto, sempre que possível, manter, em toda a sua essência, o mantra "falamos ao jantar"!
SUGESTÕES DE LEITURA
Nestes livros, os autores partilham estratégias e dicas práticas para ajudar os pais a gerirem quais, quanto tempo e em que condições os filhos poderão utilizar as novas tecnologias.