[ENTREVISTA] Os livros e a inteligência emocional das crianças
Elizabete Neves quer melhorar a relação de adultos e de crianças com as suas emoções e, consequentemente, com os outros. Para isso, primeiro é preciso saber identificar as emoções que sentimos. É difícil, mas é nisso que consiste a inteligência emocional.
Elizabete Neves quer melhorar a relação de adultos e de crianças com as suas emoções e, consequentemente, com os outros. Para isso, primeiro é preciso saber identificar as emoções que sentimos. É difícil, mas é nisso que consiste a inteligência emocional.
Formadora há mais de 15 anos na área do desenvolvimento pessoal, comportamental e comunicacional, e vice-presidente da Associação Portuguesa de Coaching, estreou-se como autora com o livro O Novelo de Emoções, que ajuda as crianças a identificarem as suas emoções de forma visual, associando-lhes uma cor. O livro é um êxito, inclusive nas escolas, do pré-escolar ao básico, e deu origem a O Novelo de Emoções – Biblioteca de Emoções e a O Novelo de Emoções para os Mais Pequeninos.
Mais recentemente, a partir também do livro de estreia da autora, surgiu o Jogo de Tabuleiro com o mesmo nome e o novo livro ABC das Emoções, em que Elizabete Neves contribui para a literacia emocional das crianças através de um alfabeto ilustrado. Otimista e cheia de ideias, a autora tem já outros projetos na manga.
Foi a sua experiência enquanto mãe que a levou a escrever O Novelo de Emoções. Escreveu-o como se falasse com a sua filha?
Sim. Muitas pessoas referem-me que a linguagem não é muito infantil, o que corresponde ao que faço com os meus filhos, porque acho que não têm de aprender a sua língua duas vezes. Mas, ao mesmo tempo, tinha de escrever de uma forma muito clara. A minha filha era a pessoa que eu imaginava à minha frente para escrever. Foi ela a primeira pessoa a quem li O Novelo de Emoções, e percebi que aquilo fez muito sentido para ela.
É importante dar exemplos concretos e simples de situações vividas pelas crianças para que elas percebam bem o que significam as emoções?
Sim. O livro tem uma estrutura: a identificação da emoção; a mensagem que a emoção nos quer transmitir; o efeito que ela faz no corpo; e, finalmente, a forma como a criança integra tudo isto. E consegue fazê-lo com alguma experiência que ela vivenciou. Eu queria dar um exemplo à criança, com o qual ela se pudesse identificar e, ao mesmo tempo, inserir um diálogo que abrisse todo um novo leque de possibilidades.
Se queremos trabalhar a inteligência emocional, o primeiro passo é o autoconhecimento.
Teve a preocupação de passar essa estrutura para O Novelo de Emoções – Biblioteca de Emoções, em que a história original se desdobra em cinco livros.
A Biblioteca das Emoções surge mesmo no final da narrativa de cada uma das emoções. Na ida às escolas, uma das coisas que eu fazia era conversar com as crianças sobre as suas emoções. Comecei então a perceber que havia uma necessidade de recursos para dar respostas à pergunta «E o que é que vocês podem fazer?», para ajudar as crianças a lidarem com os efeitos das emoções.
Tinha de haver uma continuidade. Se queremos trabalhar a inteligência emocional, o primeiro passo é o autoconhecimento. Eu tenho de saber que existem as emoções, mas também ser capaz de as reconhecer em mim. Mas, a seguir, tenho de conseguir fazer algo com elas. E aí entra o segundo pilar da inteligência emocional: a autorregulação.
A Marta é a protagonista da coleção «O Novelo de Emoções» da autora Elizabete Neves.
O Novelo de Emoções faz parte da lista de livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura, para crianças entre os 3 e os 9 anos de idade. Faz sessões de leitura do livro na escola. Como reagem as crianças?
As sessões são maravilhosas. Duram de 45 minutos a uma hora, e os miúdos estão realmente presentes. Eu vou lendo o livro e fazendo-lhes perguntas, e noto neles um sentimento de «eu estou a ser visto, alguém reconhece o que eu sinto e que não sei explicar». No fim, recebo um mar de abraços, porque há essa necessidade de contacto.
As situações que me marcam mais são aquelas em que as crianças me dizem coisas como: «mas eu, em casa, não posso chorar; os meus pais dizem que quem chora são os bebés» ou «mas eu não posso pedir ajuda, porque me dizem que o medo não existe». É o que mais me choca, pois é quase um grito de socorro. Por um lado, as crianças sabem que o que o livro diz é verdade, sentem aquilo, mas depois não têm adultos que os acompanhem. Mas acaba por ser um espelho daquilo que ainda temos de fazer, em termos de sociedade, para normalizar o sentir as emoções. Se queremos ensinar inteligência emocional, temos de ser emocionalmente inteligentes. Pelo menos, temos, enquanto adultos, de ser capazes de criar um porto seguro, em que as crianças possam exprimir as emoções. Queremos protegê-las, não queremos que sintam raiva, medo, frustração, tristeza, e queremos resolver as coisas rapidamente, mas isso acaba por abafar emoções que irão acabar por ressurgir, normalmente na adolescência.
Os adultos têm de ser capazes de dar às crianças um porto seguro, onde estas possam exprimir as suas emoções.
Tem outros projetos de livros em vista que queira partilhar connosco?
Sim, está também em processamento um livro para adultos, sobre inteligência emocional. Todos sabemos o que são as emoções, mas falta-nos compreender o papel delas, o impacto que elas têm na nossa vida e como utilizá-las e vivê-las. Não temos de controlar as nossas emoções ao ponto de as reprimir. Temos, sim, de ser capazes de comunicar com aquela emoção, dizer ao outro o que estamos a sentir, de forma adequada, com a intensidade certa, no momento certo.
Leia a entrevista completa da autora ao blogue Wookacontece.
Coleção O Novelo das Emoções
Elizabete Neves quer melhorar a relação de adultos e de crianças com as suas emoções e, consequentemente, com os outros. Para isso, primeiro é preciso saber identificar as emoções que sentimos. É difícil, mas é nisso que consiste a inteligência emocional.
Formadora há mais de 15 anos na área do desenvolvimento pessoal, comportamental e comunicacional, e vice-presidente da Associação Portuguesa de Coaching, estreou-se como autora com o livro O Novelo de Emoções, que ajuda as crianças a identificarem as suas emoções de forma visual, associando-lhes uma cor. O livro é um êxito, inclusive nas escolas, do pré-escolar ao básico, e deu origem a O Novelo de Emoções – Biblioteca de Emoções e a O Novelo de Emoções para os Mais Pequeninos.
Mais recentemente, a partir também do livro de estreia da autora, surgiu o Jogo de Tabuleiro com o mesmo nome e o novo livro ABC das Emoções, em que Elizabete Neves contribui para a literacia emocional das crianças através de um alfabeto ilustrado. Otimista e cheia de ideias, a autora tem já outros projetos na manga.
Foi a sua experiência enquanto mãe que a levou a escrever O Novelo de Emoções. Escreveu-o como se falasse com a sua filha?
Sim. Muitas pessoas referem-me que a linguagem não é muito infantil, o que corresponde ao que faço com os meus filhos, porque acho que não têm de aprender a sua língua duas vezes. Mas, ao mesmo tempo, tinha de escrever de uma forma muito clara. A minha filha era a pessoa que eu imaginava à minha frente para escrever. Foi ela a primeira pessoa a quem li O Novelo de Emoções, e percebi que aquilo fez muito sentido para ela.
É importante dar exemplos concretos e simples de situações vividas pelas crianças para que elas percebam bem o que significam as emoções?
Sim. O livro tem uma estrutura: a identificação da emoção; a mensagem que a emoção nos quer transmitir; o efeito que ela faz no corpo; e, finalmente, a forma como a criança integra tudo isto. E consegue fazê-lo com alguma experiência que ela vivenciou. Eu queria dar um exemplo à criança, com o qual ela se pudesse identificar e, ao mesmo tempo, inserir um diálogo que abrisse todo um novo leque de possibilidades.
Se queremos trabalhar a inteligência emocional, o primeiro passo é o autoconhecimento.
Teve a preocupação de passar essa estrutura para O Novelo de Emoções – Biblioteca de Emoções, em que a história original se desdobra em cinco livros.
A Biblioteca das Emoções surge mesmo no final da narrativa de cada uma das emoções. Na ida às escolas, uma das coisas que eu fazia era conversar com as crianças sobre as suas emoções. Comecei então a perceber que havia uma necessidade de recursos para dar respostas à pergunta «E o que é que vocês podem fazer?», para ajudar as crianças a lidarem com os efeitos das emoções.
Tinha de haver uma continuidade. Se queremos trabalhar a inteligência emocional, o primeiro passo é o autoconhecimento. Eu tenho de saber que existem as emoções, mas também ser capaz de as reconhecer em mim. Mas, a seguir, tenho de conseguir fazer algo com elas. E aí entra o segundo pilar da inteligência emocional: a autorregulação.
A Marta é a protagonista da coleção «O Novelo de Emoções» da autora Elizabete Neves.
O Novelo de Emoções faz parte da lista de livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura, para crianças entre os 3 e os 9 anos de idade. Faz sessões de leitura do livro na escola. Como reagem as crianças?
As sessões são maravilhosas. Duram de 45 minutos a uma hora, e os miúdos estão realmente presentes. Eu vou lendo o livro e fazendo-lhes perguntas, e noto neles um sentimento de «eu estou a ser visto, alguém reconhece o que eu sinto e que não sei explicar». No fim, recebo um mar de abraços, porque há essa necessidade de contacto.
As situações que me marcam mais são aquelas em que as crianças me dizem coisas como: «mas eu, em casa, não posso chorar; os meus pais dizem que quem chora são os bebés» ou «mas eu não posso pedir ajuda, porque me dizem que o medo não existe». É o que mais me choca, pois é quase um grito de socorro. Por um lado, as crianças sabem que o que o livro diz é verdade, sentem aquilo, mas depois não têm adultos que os acompanhem. Mas acaba por ser um espelho daquilo que ainda temos de fazer, em termos de sociedade, para normalizar o sentir as emoções. Se queremos ensinar inteligência emocional, temos de ser emocionalmente inteligentes. Pelo menos, temos, enquanto adultos, de ser capazes de criar um porto seguro, em que as crianças possam exprimir as emoções. Queremos protegê-las, não queremos que sintam raiva, medo, frustração, tristeza, e queremos resolver as coisas rapidamente, mas isso acaba por abafar emoções que irão acabar por ressurgir, normalmente na adolescência.
Os adultos têm de ser capazes de dar às crianças um porto seguro, onde estas possam exprimir as suas emoções.
Tem outros projetos de livros em vista que queira partilhar connosco?
Sim, está também em processamento um livro para adultos, sobre inteligência emocional. Todos sabemos o que são as emoções, mas falta-nos compreender o papel delas, o impacto que elas têm na nossa vida e como utilizá-las e vivê-las. Não temos de controlar as nossas emoções ao ponto de as reprimir. Temos, sim, de ser capazes de comunicar com aquela emoção, dizer ao outro o que estamos a sentir, de forma adequada, com a intensidade certa, no momento certo.
Leia a entrevista completa da autora ao blogue Wookacontece.
Coleção O Novelo das Emoções